Império Terra é uma trilogia que aborda um mundo pós-apocalíptico e a terrível luta pela sobrevivência.
Eu já li os dois volumes publicados da trilogia, "O Início" e "Guerra da Pirâmide", e são dois livros com qualidade, mas que não têm o devido reconhecimento. Se estiver interessado em os adquirir poderá o fazer através do blogue do autor.
Sei que está a fazer a revisão ao terceiro volume da trilogia,
já tem alguma previsão para o lançamento?
Não posso responder a esta questão
sem fazer uma introdução. O terceiro volume teve já diversas
versões, contudo, apenas esta chegou ao fim. Todas as outras
conduziram-me a um caminho que, a dada altura, me desagradou e me fez
perceber que não era aquilo que pretendia escrever. Depois de alguma
meditação sobre o assunto consegui desenhar o esquema, o story line
– se preferires – e arranquei. Todavia, no final, acabei com uma
história volumosa; nunca pretendi um livro muito grande, por tudo
aquilo que está associado à difícil edição de livros grandes.
Neste momento, a revisão implica um trabalho profundo de análise e
avaliação que pretende, não só, garantir a qualidade, mas também
o emagrecimento – essencial: uma tarefa descomunal, porque –
regra geral, no meu caso – a revisão acaba muitas vezes por
complementar o texto original, engordando-o. Além disso, existe
alguma resistência nas editoras em publicar um terceiro livro, sem
terem publicado os anteriores. Tudo isto somado, faz-me acreditar que
não posso adiantar uma data para o lançamento; e embora gostasse
muito de o publicar em 2013, talvez tenha de me conformar com a ideia
de 2014. A isto não é indiferente, uma ideia que tive – uma
estratégia – que poderá tornar a edição do Império Terra III,
muito mais atraente; mas mais não digo – o segredo é alma do
negócio. No entanto, faz parte dos meus projectos dar alguma coisa a
quem gosta deste universo; tenho uma ideia para publicar directamente
no meu blog http://imperioterra.blogspot.com uma história que terá
lugar algures entre o momento em que Nolen relata a Guerra da
Pirâmide e o início do terceiro volume.
Poderá falar-nos um pouco do mundo pós-apocalíptico que criou
para a trilogia?
Quando tive a ideia de Império
Terra, quis criar um Fim do Mundo diferente dos lugares comuns:
asteróides, guerras e epidemias. Para mim o mundo teria de findar,
mas teria de estar intacto, porque existia uma mensagem que eu queria
passar que era a resposta ás seguintes questões: e se tudo aquilo
com que contamos, hoje, acabasse? Quem nos tornaríamos? Que caminho seguiríamos Este foi o inicio de tudo... Mas também aqui é
importante fazer um preâmbulo. O primeiro livro a ser escrito foi a
Guerra da Pirâmide. Isto aconteceu, porque eu tenho alguma obsessão pela coerência. Assim, tinha de arranjar um passado que pudesse
trazer semelhante fim; esse passado surgiu com a Guerra da Pirâmide.
Apenas com o ataque de um povo que não gosta de usar a sua
tecnologia superior, que prefere perseguir e acossar, e que não
pretende nada mais do que encontrar uma coisa que há muito procura,
seria possível ter um mundo vazio de gente – de repente – e
intacto, em condições de permitir que a humanidade escolhesse o seu
novo caminho. E só então, escrevi Império Terra: o princípio;
depois de saber o que tinha acontecido há milhares de milhares de
anos atrás e as suas consequências para um nefasto dia de Outubro
de 2029. É claro que, depois, a fasquia tornou-se mais alta e a
pergunta principal nasceu: E se tudo o que te contaram não for a
verdade? O meu projecto inicial transformou-se numa – não diria
epopeia – mas numa jornada para mostrar uma história do Universo,
e da humanidade, diferente.
O que o levou a escolher Lisboa como o cenário original?
«Escreve sobre o que conheces», é
uma máxima apontada por muito escritores. Lisboa é uma cidade que
conheço bem, principalmente a área onde a história se desenvolve,
é uma cidade cheia de luz e movimento, e sendo a capital de Portugal
que melhor sítio para se desenhar um princípio de um fim, para
demonstrar os contrastes entre aquilo que o mundo era e aquilo em
que ele se tornou?Apenas para aguçar a curiosidade, no terceiro
volume regressamos a Lisboa...
Qual a personagem por quem nutre um maior carinho?
Gabriel, sem dúvida nenhuma. Será
injusto não referir os outros, porque todos são importantes, e
porque a todos me apeguei de alguma maneira; por exemplo, gostei
muito do Argu Revorelta, da Elira, do Sibael, do Nolen e do Trebar...
e na redacção do terceiro comecei a apreciar outros. Mas, se tivesse
de eleger um, seria o Gabriel. Mas isto dos personagens é
interessante. Cada autor relaciona-se com eles de uma maneira
particular, tal como os leitores. Para mim, a partir do momento que
estão criados são livres – por assim dizer – e desenvolvem-se
sozinhos – por assim dizer, também; e, por vezes, quebram as
nossas expectativas e desiludem-nos ou superam-nas e tornam-se heróis
inesperados. Por exemplo, nas Crónicas de Allarya, do Filipe Faria,
eu sou fã do Quenestil. E tu, na Guerra da Pirâmide,
surpreendeste-me ao dizeres que o teu preferido era o Onileva – que
aos meus olhos é um personagem secundário; o que me fez crer que
foi um personagem muito credível.
Para si, qual é a importância dos blogues na divulgação de
livros?
No nosso mundo, onde a maioria das
pessoas vai à internet em busca de informação, os blogs têm um
importância determinante. E isso sucede, não só por facultarem
informação, mas porque numa sociedade em que abundam tantos títulos
dentro do mesmo género, e em que o tempo é escasso, torna-se
necessário escolher bem o que se vai ler, e os blogs dão-nos essa
possibilidade. Ao fazerem isso tornam-se referências para os
leitores e - em alguns casos – essas referências são tão
importantes que as próprias editoras se associam aos blogs. Desta
mecânica surge uma sinergia que é a própria divulgação das obras
e dos autores. Para além dos blogs, como o teu, que divulgam
diversas obras, há depois os próprios blogs dos autores, dedicados
ás próprias obras. Devo dizer, sobre os últimos, que é muito
complicado conseguir fazer essa divulgação quando se tem um
trabalho 9-18 e se quer escrever todos os dias – é por isso que,
regra geral, apenas publico ás quartas.
De onde nasceu o seu interesse pela literatura?
O meu interesse pela literatura foi
nascendo aos poucos, e posso dizer que até despontou tarde. O meu
pai tinha, e tem, muitos livros em casa; não era uma vasta
biblioteca, mas para mim era imensa, e sempre sentira curiosidade
pelo conteúdo daqueles «pacotes de papel» e comecei a ler alguns.
Até dada altura o meu género estava cingindo ao policial e ao
mistério, que era aquilo que mais existia em casa dos meus pais; mas
depois comecei a ler títulos menos representativos, mas assaz
interessantes e que me mostraram outros géneros. Creio que o momento
mais alto, aquele que me define enquanto leitor, foi quando descobri
que podia levar livros para casa, de borla, da biblioteca municipal;
foi aí que comecei a ler a sério e comecei pela Trilogia do Senhor
dos Anéis. Depois disso ninguém mais me parou; lia tudo aquilo que
achasse interessante. Já do ponto de vista do escritor, de como a
ideia de escrever nasceu, tudo começou numa brincadeira: um concurso
literário, no 9º ano. O que escrevi foi uma patacoada enorme, em
que – basicamente – brincava com alguns familiares meus. Mas foi
o suficiente para que nascesse o «bichinho». Nesse ano escrevi dois
proto-romances policiais – o género em que estava mais à vontade.
Mais tarde, num desafio lançado à turma por um professor de
Português, escrevi um pequeno conto sobre a aventura de um pescador
no mar revolto. O professor adorou; comparou-me a Raúl Brandão –
o que me deixou orgulhoso – e o que me valeu a alcunha de Alfred
«patilhas» Hitchcock. Nesse momento nasceu o sonho de ser escritor,
comecei a escrever o meu primeiro romance policial, que está na
gaveta - cheio de coisas escritas por um adolescente que via na
escrita de histórias a possibilidade de ser o herói que desejava;
de lá até cá, numa jornada conturbada, fui escrevendo alguns
contos, alguma poesia, e esse sonho foi ficando esquecido. Até que
ressurgiu e deu origem ao Império Terra.
Quais os seus escritores preferidos?
Como tenho sempre dito, não me
considero um escritor de género. Ou seja, gostaria de ser visto, um
dia – se tiver essa sorte – como um escritor, tão somente. Gosto
muito do género fantástico e Hoje acho que daqui a muitos anos –
espero eu -, quando olhar para aquilo que produzi, estarei a ver uma
pilha de livros de Fantástico e umas torres mais pequena - e menos
vistosas - de outros géneros; no entanto, posso estar enganado. A
verdade é que escrevo conforme a história nasce, e nem sempre nasce
no fantástico. Devo isso ao facto de ter convivido, se assim se pode
dizer, com uma vasta gama de géneros literários. Sendo verdade que
comecei pelos policiais, não é menos verdade que assim que pude
pisar outros terreno o fiz. Por isso, estão entre os meus autores,
favoritos: Agatha Christie, John Le Carré, Balzac, Kafka, Marion
Zimmer Bradley, Juliet Mariller, Arthur C. Clark, Konsalik, Isac
Asimov, Almeida Garret, Tolkien, Julio Verne, Daniel Silva, Paulo
Coelho... Poderia continuar e continuar. O que importa dizer - e isto
é uma espécie de sugestão; é que todos os autores nos enriquecem
de alguma maneira; em todos eles eu encontrei inspiração e força
para continuar a trilhar este caminho.
Qual o livro que gostava de ter escrito?
Não consigo dar essa resposta. Há
livros que me impressionaram pela história, mas que o modo como
foram escritos não me arrancaram nenhuma exaltação. Há livros
cuja história não é nada de especial, mas o escritor deu-lhe uma
vida inebriante através das suas palavras. Um bom livro é
conseguido pelo equilíbrio daquelas duas dimensões. Por isso, dizer
que gostava de ter escrito este ou aquele livro, é impossível. Mais
facilmente identifico partes das narrativas que gostava de ter
escrito; ou melhor, que gostava de conseguir escrever com igual
brilhantismo. São essas partes que me inspiram e me fazem querer ser
um melhor escritor.
Já tem mais projectos em mente?
Um escritor escreve. Aqui há algum
tempo li um texto que dizia exactamente isto: há pessoas que querem
ser escritores e há os escritores; os primeiros perseguem um sonho,
os segundos realizam-no. Eu enquadro-me no segundo; escrevo. Por isso
a resposta à pergunta é sim. Tenho dois livros publicados, um
terceiro em revisão; mas tenho mais dois terminados; e entretanto
publiquei dois contos pelas colectâneas da Pastelaria Studios –
«Ocultos Buracos» (Poseidon) e «Na Corda Bamba» (Madnov); estou a
escrever outro romance, enquanto faço a revisão do Império terra
III. E, para terminar, há o tal projecto de romance online. Ideias
tenho muitas, vou apontando-as num caderninho; o tempo é que é
pouco.
1 comentário:
Já tive oportunidade de ler o primeiro livro do Pedro Fonseca (Império Terra) e pretendo ler em breve o segundo.
Gostei muito da entrevista, que se focou em vários aspectos diferentes e interessantes. Espero que o terceiro livro seja lançado quanto antes e vou ficar atenta aos restantes projectos do autor.
Enviar um comentário