8 de março de 2011

Finalmente mais umas compras



Algumas das personagens mais ricas de toda a fantasia.

Durante quase um ano, a paz reinou nas terras encantadas de Rillanon.
Porém, novos desafios aguardam Arutha, Príncipe de Krondor, quando Jimmy Mãozinhas – o mais jovem larápio do Grémio de Mofadores – surpreende um sinistro Noitibó prestes a assassiná-lo.
Que poder maléfico faz erguer os mortos e leva cadáveres a combater os vivos por ordem do Grémio da Morte? Que magia poderosa poderá derrotá-los? O novo Rei de Midkemia corre perigo por se envolver numa expedição de vida ou morte em busca de um antídoto para o veneno que fez sucumbir a bela Princesa no dia do seu casamento…



Os leitores de Harry Potter cresceram. E esta é a série que vão ler.

Após renegar a sua própria família e partir para longe de Menzoberranzan, a sua pátria, Drizzt tem que aprender a sobreviver e conquistar um novo lar no imenso labirinto dos túneis subterrâneos onde se ocultam criaturas das trevas. Mas o verdadeiro perigo parte da sua própria raça e Drizzt terá que estar atento a sinais de perseguição, pois os elfos negros não são um povo misericordioso...
Venha descobrir Drizzt, o elfo negro, uma das personagens mais lendárias da fantasia. E acompanhe-o na épica e intrépida jornada para longe de um mundo onde não tem lugar... em busca de outro, na superfície, onde talvez nunca o aceitem.



Uma escritora do mais alto nível. Quando acabei de ler só queria que os livros nunca acabassem -George R.R. Martin

TERRE D'ANGE é um lugar de beleza sem igual. Diz-se que os anjos deram com a terra e a acharam boa... e que a raça resultante do amor entre anjos e humanos se rege por uma simples regra: ama à tua vontade. Phèdre é uma jovem nascida com uma marca escarlate no olho esquerdo. Vendida para a servidão em criança, é comprada por Delaunay, um fidalgo com uma missão muito especial... Foi, também ele, o primeiro a reconhece-la como a eleita de Kushiel, para toda a vida experimentar a dor e o prazer como uma coisa só. Phèdre é adestrada nas artes palacianas e de alcova, mas, acima de tudo, na habilidade de observar, recordar e analisar. Espia talentosa e cortesã irresistível, Phèdre tropeça numa trama que ameaça os próprios alicerces da sua pátria. A traição põe-na no caminho; o amor e a honra instigam-na a ir mais longe. Mas a crueldade do destino vai levá-la ao limite do desespero... e para além dele. Amiga odiosa, inimiga amorosa, assassina bem-amada; todas elas podem usar a mesma máscara reluzente neste mundo, e Phèdre apenas terá uma oportunidade de salvar tudo o que lhe é mais querido.

Opinião - " A Gente de Smiley"



Sinopse:

O telefonema que certa noite arranca da cama George Smiley, chefe interino do Circus, é uma súplica para que volte ao serviço activo. Mas, como em breve Smiley descobrirá, é para enterrar o caso que o chamam, e não para o solucionar.

Um velho conhecido morto a tiro em Hampstead Heath, uma mulher de idade residente em Paris a quem foi prometido o regresso de uma filha que nunca verá, uma fotografia tirada num bordel de Hamburgo - e George Smiley, já na reforma, é de novo convocado para o serviço…

Opinião:

Este livro de espionagem é o ultimo livro de uma trilogia, mas que dá para se ler como um stand-alone, como eu fiz. 

Smiley agora um reformado agente secreto do Circus, recebe um telefonema a dizer que o general Vladimir foi morto e pedem-lhe para investigar a morte do seu antigo informador e amigo. 

Smiley nas suas investigações com a ajuda de Toby Esterhase, consegue apurar que o seu rival soviético apenas conhecido pelo nome de código Karla está por detrás da morte do general Vladimir, um dissidente do Exército Vermelho e activo lutador pela independência dos Países Bálticos (Estónia, Lituânia e Letónia) . 


Num ritmo algo lento, para um livro do seu género mas com uma escrita fluída e um bom enredo este livro é uma boa forma para se passar umas horas entretidas a ler. 

Avaliação: 7-10 

5 de março de 2011

Redenção

O nascer de um dia quente e agradável escondia a verdadeira história que se iria escrever.
De farda vestida percorro o caminho, gasto e vazio, tantas vezes feito, para o castelo. Sem o brilho no olhar que iluminava a primeira vez que o caminhei, de peito cheio, orgulhoso pela tarefa que cumpria.
Recordo-me como se fosse hoje. Não do primeiro dia de trabalho, do início de tudo.
A religião, claro, levou o mundo a um ponto de ruptura. O que se seguiu foi o esperado, nada de anjos ou de paraísos. Morte. Apenas e só a morte.
A população mundial definhava, África foi irradiada do mapa. Os primeiros a pagar a factura das loucuras cometidas em nome de um poder superior.
Os Estados Unidos, outrora protectores do mundo, foram arrasados, destruídos por fundamentalistas mais preocupados com um livro velho e poeirento do que com a sua própria vida.
O Vaticano tomou conta das operações. Tal como os cruzados de outros tempos, sangue foi derramado entre fiéis e infiéis de ambos os lados. Todos eles eram infiéis.
Não houve um vencedor. Na guerra nunca há vencedores, apenas vencidos.
O mundo inteiro perdeu. Sociedades desabaram, reergueram-se, para novamente tombarem perante falsos profetas da salvação.
O fim estava próximo, não que os quatro cavaleiros do apocalipse cavalgassem as ruas à procura de pecadores, mas os grupos organizados que aterrorizavam os sobreviventes, faziam com que esse parecesse melhor destino.
Como em todos os momentos decisivos da história, surge um salvador. Como sempre, um como não há memória, magnifico, puro e casto. Um ditador.
Sem políticas reconhecíveis, apenas proclamava a necessidade de ordem. O povo, inicialmente relutante, concordava com as ideias que o mesmo gritava aos quatro ventos.
Pouco a pouco, como uma nuvem de fumo que enche uma sala, ganhou espaço e poder. Poder. Palavra maldita nas mãos erradas. Será que alguma vez houve mãos certas?
O mundo é agora o seu quintal. Podre e esquecido, mas seu.
Milhões foram exterminados. Muitos outros foram escravizados. Tudo para bem do mundo, dizia ele. Todos os que podiam concordavam, esperançosos de escapar ao trágico fim que assolava os restantes.
Também eu concordava, não por medo. Por esperança.
Turquia. É aqui que as minhas lembranças se tornam turvas e amargas, que me levam ao inferno e um pouco mais abaixo.
Fui treinado, convencido de que era uma honra ser confiado com o maior tesouro do Ditador.
Inicialmente pensei que fosse guardar os amaldiçoados livros que continham o conhecimento proibido e pelo qual já tantos tinham morrido. Não, fui guardar algo muito mais proibido.
Mulheres. Se há algo que nem os ditadores ignoram, é o prazer do sexo. Este não era excepção, pelo contrário, era um predador.
Ainda me lembro do curto voo, agitado e conturbado, até à Roménia. Até ao emprego de sonho. Ao paraíso. Ao inferno.
Fui levado ao castelo, por um caminho novo, brilhante e limpo, que conduzia à porta dos escolhidos, os eleitos que iriam guardar o tesouro. Com um brilho de orgulho imenso instalado no meu olhar, enchi o peito com o ar do novo mundo.
Nunca me irei esquecer o trajecto que percorri após o fecho da porta metálica e pesada. Um longo corredor, fresco e bem iluminado. Pequenas janelas convidam os raios de sol a entrar, deixando o calor lá fora.
Enquanto caminhava, apenas o som dos meus passos e da minha pesada respiração enchia o lugar. Era como a noite mais escura passada num cemitério vazia de fantasmas dementes. Silêncio em estado puro. Aterrador.
Senti, ainda mais, o peso da responsabilidade quando vislumbrei aquela porta. Não era metálica mas sim de madeira. Tinha uma forma circular, como se fosse a rolha de uma garrafa de um qualquer líquido pecaminoso.
Dois companheiros estavam colocados à porta, vestindo o mesmo uniforme vermelho, cor do Ditador. Ambos pareciam irritados, algo que me deixou sorridente. Ninguém gosta de ficar à porta do paraíso e não puder entrar.
A rolha, como registei mentalmente, foi aberta. Um mundo de véus, cortinas, sofás e poltronas luxuosas, camas redondas e rectangulares explodiu à minha frente. A sala era gigantesca, surreal. Vi centenas de mulheres. Todas elas lindas, perfeitas.
O olhar recaiu, lascivo, numa jovem asiática. Não deveria ter mais de vinte anos. Era de uma beleza inexplicável. Os traços orientais do seu rosto pareciam perfeitas pinceladas de um qualquer génio da pintura. Tal beleza não podia ser real.
Foi apenas um exemplo dos muitos que me assombraram.
Vi centenas de belezas a desfilar à minha frente. Todas elas silenciosas, expectantes. Receosas.
Os primeiros dias foram vividos no fascínio carnal que apenas um homem adulto pode compreender. O tempo mudou esse fascínio para um sentimento bem diferente.
Os meses foram passando, trazendo chuva e vento ou uma suave brisa. Por vezes um calor infernal. Estações do ano que corriam apagando um pouco a minha ilusão de que o mundo estava parado. Como se o globo tivesse amuado como uma criança pequena e desistido de rodar sobre o seu eixo.
Já a tinha visto, claro. Seria impossível, passado tanto tempo, não ver uma daquelas mulheres. Mas algo ocorreu de diferente desta vez. Não sei se foi alguma expressão mais resignada na sua cara oval, clara como uma boneca de porcelana. Talvez algo no brilho triste das safiras que embelezavam o rosto. Percebi que o brilho de um olhar que se escondia por detrás de uma vida miserável, no seu esplendor, deixaria envergonhado o mais belo ovo Fabergé
Fui desperto dos meus devaneios quando o chefe do harém agredia, brutalmente, uma das concubinas a soldo.
Nesse instante todos os anos de treino para exercer esta função evaporaram como água turva de uma poça de verão. Sabia que nada disto era correcto. Mas um homem nada pode contra o mundo. E o dono da prisão era o dono do mundo.
Os dias foram passando, mais lentamente, e procurei formas de manter aquela mulher perto de mim. Não que a pudesse proteger, na verdade nem coragem teria de tentar, mas, tal como uma força superior, não me conseguia conter.
Acredito que com o tempo tenha sido perceptível, tanto para ela como para os outros guardas, mas não seria o primeiro tolo apaixonado por uma meretriz do mundo novo.
Passava os dias a controlar os meus impulsos, cada vez menos carnais, para não a poder prejudicar. Uma mulher era uma pechincha comparada ao custo de um guarda do meu nível.
Já não visitava os campos de treino, onde jovens, após verem vendida a sua virgindade por verbas exorbitantes, eram possuídas diariamente pelos guardas para se tornarem experientes nas artes da sedução. Um paraíso ao início.
Agora não afastava da minha mente a possibilidade de ela ter passado pelo mesmo, por um acto bárbaro que tantas vezes cometi. Aos 18 anos, eram consideradas prontas para a venda diária dos suspiros de quem as procuravam. Recebiam o colar vermelho, ornamentado com uma esmeralda ou safira. Uma peça de joalharia fantástica, que não passava de uma marca do destino que os novos deuses, donos do mundo, libertadores da opressão, tinham escolhido para elas.
Os dias assumiram um ritmo lento, triste e sufocante. Algo tinha mudado dentro de mim. O quê, não o sabia explicar.
Todas as semanas a via ser escolhida, levada a contra gosto. A sua cara apresentava os traços de alguém que já não acredita que valia a pena respirar. Como uma maria rapaz obrigada a frequentar ballet, os seus passos não possuíam qualquer graça, os movimentos do corpo não eram fluídos ou sedutores. Talvez fosse isso que agradasse a alguns dos senhores que compravam o seu corpo.
Semana após semana, eu morria mais um pouco.
Um dia, quando a vi chegar, com o cabelo atado num perfeito rabo-de-cavalo com a ponta descaindo para o ombro esquerdo, andando miserável, como que amaldiçoada, exibindo o colar com a safira que era ofuscada pelo brilho triste do seu olhar, sabia que tinha de tomar uma decisão.
Ponderei, durante semanas, como a ajudar. Os dias passavam agora a uma velocidade alucinante. E a chuva que lá fora fustigava o terreno montanhoso que circundava esta prisão carnal, não melhorava o meu estado de espírito.
Elaborei um plano. Mal calculado, mal concebido e a rasar o desesperado. Mas era o melhor que tinha e, principalmente, a única esperança para ela.
Nunca lhe tinha dirigido uma palavra, recusava-me a ser eu a escoltá-la sempre que passava por aquela porta. Na cumplicidade única de quem habita diariamente o inferno disfarçado de paraíso, entre nós, guardas, revezávamos as escoltas para evitar o sofrimento que habitava nos nossos corações de pedra.
Não sei quantos anos ela habitou aquela divisão maldita, recheada de quartos e de espaços comuns, com uma decoração lasciva e sufocante. As velas com cheiros aromáticos que queimavam diariamente, impregnava na pele o aroma artificial de flores que apenas nos sonhos podiam ver agora. As informações eram passadas à moda antiga, um papel com o número da concubina pretendida e qual a porta para onde deveria ser escoltada. Tudo sistemático, burocrático mesmo. Até na exploração este governo gostava de controlar tudo ao mais ínfimo pormenor.
Chegou o dia que pretendia. Apesar de toda a cumplicidade entre os guardas, uma fuga era uma possibilidade que nunca foi ponderada.
Ao receber o número dela, Karin era o seu nome, desloquei-me com ela à porta errada. Vi a surpresa no rosto dela quando me viu escolta-la, o seu olhar interrogava-se como quem questionava se também aquele, eu, teria desistido dela.
Ao mostrar a folha ao guarda, fui repreendido por a porta não se a correcta. Assenti, olhando para os seios parcialmente descobertos da meretriz como que desculpando a minha distracção com aquela visão. O guarda sorriu. A tal cumplicidade assume contornos diferentes entre os que guardam a porta do que julgam ser o paraíso ou daqueles que vivem no verdadeiro inferno encerrado entre aquelas paredes de decoração luxuosa.
Apontou a direcção das escadas para onde me deveria dirigir por forma a entregar a concubina ao guarda correcto. Pelo caminho, reuni toda a coragem em mim.
- Não há tempo para explicar. Quando virares à direita, vais encontrar no chão, por trás da estátua de bronze do guerreiro celta, um fato de criada. Veste-o sem demoras.
Não obtive o prazer de ouvir o som da sua voz, como se duvidasse se sonhava ou não, piscou os olhos rapidamente e assentiu.
Vestiu-se com destreza e rapidez, forçando-me a olhar para longe quando o seu corpo nu me provocava suores frios e arrepios em todo o corpo.
Aproximei-me. Vi que se encolheu, como uma presa que julga que apenas mudou de carcereiro. Quando viu a faca nas minhas mãos o seu rosto tornou-se ainda mais branco, se tal fosse possível. Como se as gotas de sangue se recusassem a habitar o rosto angelical que possuía.
- Calma – disse enquanto erguia as mãos em sinal de paz – Tenho de tirar-te a coleira ou vão perceber que não és uma simples criada.
Vi dúvida no seu rosto, como uma criança que não sabe se a pergunta do professor tem rasteira. Acedeu a que me aproxima-se, mantendo as mãos à volta do peito, abraçando-se com força como eu desejava abraça-la.
O colar cedeu com facilidade. A segunda parte do plano era mais complicada. No entanto, se resultasse, pelo menos uma vida poderia ser salva.
Levei a concubina vestida de criada até outro corredor. Ao chegar à frente do guarda indiquei-lhe que me deixasse passar. Face à sua cara de espanto e incerteza quanto ao que fazer, disse-lhe:
- Ouve bem meu estúpido – soltando uma quantidade considerável de saliva enquanto falava – apanhei esta cabra a roubar um dos colares das meretrizes. Vou leva-la a um quarto e mostrar-lhe o que se faz a quem usa estes colares. Tens alguma coisa contra?
Como se percebesse que era melhor para a sua saúde, ou talvez o receio que houvesse alguma verdade nas minhas palavras, Karin debateu-se, olhando o guarda com súplicas murmuradas.
- Não meu irmão – respondeu com um sorriso – faz o que tens de fazer e deixa essa ladra presa no quarto. Em breve vou dar-lhe a mesma lição que tu. Se quer um colar tem de o merecer – piscou-me o olho, cúmplice.
Sorri e passei em direcção aos quartos. Onde as crianças eram violadas. Entramos num que estava vazio. Pude ver o desespero no seu rosto, com ódio por ter sido enganada.
- Calma! – ergui novamente as mãos em sinal de paz – Tinha de dar uma desculpa credível. Agora vais passar por aquela janela – apontei para a paisagem de uma montanha circundada por uma planície cor de trigo – Vais seguir na direcção do pico da montanha. Irás levar contigo um burro e um cesto que deixei presos a aquela árvore – apontei de novo, tentando ter a certeza que ela me ouvia com atenção – se alguém perguntar, respondes que vais levar fardas dos seguranças ao armazém da destruição.
Vi que ela olhava para os locais que eu apontava com um receio em misto de puro estado de êxtase. A liberdade com que ela tinha tantas vezes sonhado, estava ali. À distância de um salto de uma janela.
- No burro irás encontrar um cesto com dinheiro e indicações sobre o que fazer. Segue-as e serás livre. – Sorri
- Porque me ajudas? – Parou ao ver o embaraço na minha cara – Porque arriscas a tua vida?
- Porque estes senhores do mundo não passam de vampiros. Seres do mal que ocupam as noites sugando a felicidade e a alegria das vossas vidas. São seres que nem uma estaca pode parar, talvez uma revolta, talvez um dia. Mas, para isso ser possível, são necessárias lendas, mitos e boatos. Algo que dê esperança aos outros, que mostre que é possível. Eu e tu. Nós vamos começar por mostrar que é. – Terminei olhando em volta, afastando o olhar dos seus olhos cintilantes.
Sem qualquer palavra, abraçou-me. Pude sentir as suas formas sedutoras contra o meu corpo abstinente. Não me senti tentado. Poderia ter possuído o seu corpo ali mesmo, sendo mais um dos que corromperam a sua alma. Mas a minha escolha estava feita e não passava de um amor platónico. Puro. Saudável, pelo menos para ela.
Sem demoras transpôs a janela que a separava dos horrores que tinha vivido para a liberdade que tanto ambicionava. Fiquei prostrado a ver as suas formas, decididas, avançando para a liberdade. Não traia quem era, pertencendo ao mundo que a rodeava sem qualquer dificuldade.
Fugi. Não por mim, o meu destino estava selado. A forca teria mais um cliente, um exemplo. Mas, era exactamente essa a minha escolha, ser um exemplo para que outros possam arriscar.
Passado um dia fui encontrado, nas ruínas de uma casa luxuosa que o tempo tinha derrubado. Fui condenado sem julgamento e não conheci juiz, apenas carrasco.
De farda vestida percorro o caminho, gasto e vazio, tantas vezes feito, para o castelo. Sem o brilho no olhar que iluminava a primeira vez que o caminhei, de peito cheio, orgulhoso pela tarefa que cumpria. Não, não era inteiramente verdade. O orgulho que tenho é imensamente superior.
Com as mãos presas por algemas ferrugentas, sigo o caminho. A farda mostrava que a justiça atinge todos, até aqueles que se asseguram que os outros a sigam.
Vi, com esperança, olhares tristes e desolados dos meus companheiros, os outros carcereiros. Sabia que, para eles, seria uma lenda. Alguém que, por um amor verdadeiro, desafiou todas as regras. Quantos iriam percorrer os mesmos passos que percorro hoje, não sei, mas sentia que não seria o último a pagar por este crime. Quem sabe, um dia, não sejam os senhores do mundo que percorram este caminho gasto e vazio.
Enquanto a corda me é posta à volta do pescoço, penso nela. Penso que sorri, contente. Livre. Peço a Deus, um qualquer, real ou imaginário, que ela se esqueça de tudo o que aqui sofreu. Se assim for, se para isso ajudar, que até se esqueça de mim. Com um sorriso, é assim que vou desafiar a morte. Sorrio.

Por: Miguel Brito

4 de março de 2011

Capas da Conspiração 365


O site oficial acabou de divulgar as capas da Conspiração 365 até Junho.
Parece que o Cal ainda tem muitas aventuras a sua frente.

3 de março de 2011

Dança dos Dragões


O George R.R. Martin finalmente lançou no seu site uma data para o lançamento do livro que será já no próximo dia 12 de Julho de 2011. Esperamos que ele cumpra a data para ver se ainda neste ano temos o livro por cá!!

Crescendo a venda a partir de 17 Março



Sinopse:

Depois do best-seller hush, hush

A vida de Nora Grey continua longe de ser perfeita. Sobreviver a um ataque que podia ter-lhe custado a vida não foi fácil, mas tudo se resolveu, graças ao seu anjo da guarda - uma criatura misteriosa, sedutora e bela.
Mas Patch tem sido tudo menos angelical. Está mais distante do que nunca e parece estar a passar demasiado tempo com a arqui-inimiga de Nora, Marcie Millar. E, como se isso não bastasse, Nora é assombrada por recordações do seu pai assassinado, começando a pensar que as intrigas dos anjos poderão estar relacionadas com a morte dele.
Desesperada por desvendar os estranhos acontecimentos do seu passado, Nora expõe-se ao perigo, na esperança de encontrar algumas respostas.
Mas todos sabemos que há perguntas que nunca devem ser feitas...

1 de março de 2011

O Regresso do Assassino vol. 1



"Os fãs de Robin Hobb não ficarão desapontados com esta nova série." -Monroe News-Star

Ele é um bastardo com sangue real.
Ele é um assassino com poderes malditos.
Ele é a única esperança para um reino caído em desgraça.
Atreva-se a entrar num mundo de perfídia e traição que George R. R. Martin apelidou de "genial". Atreva-se a acompanhar um herói que a crítica considerou "único". O Regresso do Assassino é o regresso da grande fantasia épica. Se está à espera de mais do mesmo, este livro não é para si. Caso contrário... bem-vindo a uma aventura que nunca irá esquecer!

A lenda do rei Dhajako

O sino na igreja dobrava a sua triste melodia. O rei, Dhajako o justo, como era chamado nas ruas, estava morto.
O povo reuniu-se na rua, durante dias chorou a morto do principal responsável pela paz e prosperidade do reino. Era amado.
Os dois filhos do rei foram chamados, das terras que governavam, para o funeral, a última despedida a que teriam direito.
Kaljako e Bhanjako. Irmãos. Príncipes. Órfãos.
Kaljako chegou primeiro. Do pai tinha herdado os olhos negros como o breu, os ombros largos e poderosos e, acima de tudo, o direito a ser rei. Era o primogénito.
Bhanjako tinha herdado menos, menos o reino, menos os ombros poderosos, apenas os olhos negros. Em mais nada eram semelhantes os dois homens que o destino uniu por sangue.
O sino continuava a tocar, com um ritmo triste e pausado, era a música de fundo para as lágrimas do povo.
O coveiro fez o seu percurso. Atravessou a cidade, do castelo ao cemitério. Vestia a capa negra, como manda a tradição, fez o caminho de forma calma, orgulhosa, sendo aplaudido polo povo. Seria ele e, apenas ele, quem poderia estar presente no funeral do rei. Manda a tradição que apenas o coveiro mais velho e experiente esteja junto da família real durante o funeral. O seu rosto deve estar tapado, escondido, dos herdeiros de sangue azul, mas todo o trabalho é feito por ele. É uma grande honra.
Na rua há lágrimas. Muitas, a maioria, pelo rei, outras, pelo fumo que ainda habita as fronteiras do reino. O incêndio, ninguém sabe bem como começou, apenas se sabe que levou a vida do rei. Queimado e desfigurado, foi assim que a morte reclamou o maior dos reis. Eram estes os desabafos tristes do povo.
 Dois guardas cruzam lanças à porta do cemitério. O coveiro e os príncipes já estão nos seus lugares. Tudo pronto. O sino parou. Silêncio, arrepiante, invade tudo e todos. O rei é lembrado em orações.
A capa esconde o seu corpo, mas não esconde a idade. O coveiro mais velho, o que veste de negro hoje, continua de forma lenta e pausada a cavar a sepultura do seu soberano. As mãos, a única parte visível do seu corpo, mostram um homem cansado, mas determinado, frágil, mas nem por isso menos firme. Ele continua o seu trabalho. Ao som da conversa dos dois príncipes.
- Maldito seja este costume. – Dizia Kaljako – este velho vai demorar horas a cavar. – Suspirou de frustração
- Até na morte ele nos atrasa. Velho maldito. – Desdenhava Bhanjako
Um irmão ofereceu ao outro uma bebida. Ambos beberam, sorriram, riram e conversaram sobre diversos temas, enquanto o coveiro seguia o seu trabalho. Cansado, mas determinado.
- Vais ficar com a coroa? – Perguntou o mais novo
- Claro! Dentro em breve espero ter vendido aos glundianos metade das terras para lá do castelo. Assim, evito uma guerra e livro-me de metade das bocas que atormentam o reino com fome.
- O velho daria voltas no túmulo – troçou Bhanjako – Espera, será que está? – Enquanto ria histericamente ao olhar para a liteira onde o corpo do seu pai estava, queimado e desfigurado, apenas reconhecível pela pedra cor-de-rosa que o seu anel orgulhosamente exibia.
Continuaram na partilha de copos e histórias, algumas nada agradáveis, sobre as atrocidades que cometeram nas suas terras.
O coveiro terminou o seu trabalho. Ficou, como manda a tradição, parado junto ao corpo. Sem uma palavra, à espera que os príncipes levassem o corpo do pai para a sua última morada.
- Bem, vamos acabar com isto de vez – dizia Kaljako – Há uma criada bem novinha no castelo que quero experimentar. Ainda nem mamas tem. – Sorria para o irmão.
- Ah, são as melhores. Nem sabem o que estão a fazer, à espera que tenhamos piedade delas se agradarem. – Um brilho louco estava estampado no seu olhar – mato-as sempre. Sou um lamechas, não sou irmão?
As atrocidades ditas pelos filhos do rei, seriam suficientes para uma revolução, uma carnificina nas ruas, mas o coveiro estava proibido de dizer uma palavra sobre o que tinha visto. Assim era a tradição.
Os irmãos agarraram, nada respeitosamente, o corpo do pai. Atiraram o mesmo para a cova, pouco funda, que o velho coveiro tinha aberto. Ambos cuspiram no cadáver. A maior das desonras aos mortos.
Um reboliço agitou a entrada do cemitério. O som de espadas a faiscar uma contra a outra, aterrorizou os irmãos.
Silêncio, novamente silêncio.
Uma figura. Um homem, jovem, caminhava em direcção à cerimónia fúnebre.
- Quem pensas que és para interromper o funeral do nosso pai, mensageiro? – Silvou o primogénito
O homem nada disse. Sem uma palavra, atirou uma rosa amarela para junto do corpo do rei.
- Não ouviste o novo rei? – Perguntou o eterno príncipe
Miljako, mensageiro e homem de confiança do rei, chorava. Estava fora, em missão, quando soube da notícia. O rei, o seu rei, estava morto. Um incêndio, chamas malditas tinham reclamado o seu mentor, o homem que o inspirava a ser melhor. Os inspirava a todos.
- Ele gostava mesmo do velho – disse um irmão ao outro – patético. Mas, o que se podia esperar de um bastardo, filho de uma meretriz?
- Miljako, se eu fosse mais velho, até te deixava que me chamasses pai, de tantas as vezes que tive a rameira da tua mãe na minha cama – dizia Kaljako
Ódio puro emanava dos olhos verdes de Miljako, a vontade, a dele, era dos matar ali. Ainda fez menção de levar a mão à espada e acabar com os dois príncipes. Mas por respeito ao seu rei, virou costas e começou a caminhar de volta à turba silenciosa.
- Miljako, espera! – Disse uma voz familiar, dentro da capa de coveiro.
Olhares surpreendidos foram trocados pelos dois irmãos.
O coveiro, não era um coveiro. Era o rei Dhajako.
Tudo não passara de uma armadilha, para comprovar o carácter dos filhos.
Não se sabe bem o que aconteceu depois da revelação da identidade do homem. Apenas se conta, murmura, que os príncipes estão algures, presos, por ordem do rei. Miljako, o mensageiro, foi adoptado pelo seu mentor. Viria a ser rei.
É esta a lenda do rei Dhajako. O rei que voltou dos mortos para proteger o seu povo dos próprios filhos.

Por: Miguel Brito