28 de março de 2011

A Princesa Guerreira de Barbara Erskine



Sinopse:


Jess, professora em Londres, é vítima de um ataque de que não consegue recordar-se. Tudo indica que o agressor é um homem que a conhece bem. Assombrada pelo medo e pela suspeita, Jess refugia-se na casa isolada da irmã, na fronteira do País de Gales. O silêncio que procura é, porém, interrompido pelo choro de uma misteriosa criança.
A casa, a floresta que a cerca e o vale mais abaixo transportam ecos de uma grande batalha, travada dois mil anos antes. Ali caiu Caratacus, liderando a resistência das tribos da Britânia aos invasores romanos. O rei foi capturado e levado para Roma como prisioneiro, juntamente com a mulher e com a filha, a princesa Eigon.
Sentindo-se impelida a investigar a história de Eigon, Jess segue os seus passos até à Roma de Cláudio e de Nero, onde a princesa assistiu ao grande incêndio, presenciou a perseguição movida aos cristãos e privou com o apóstolo Pedro. Aqui, talvez o mistério da extraordinária vida de Eigon se desvende, ou Jess se abandone progressivamente à sua obsessão, arriscando uma proximidade crescente com o seu. No limiar entre o sonho e a vigília, a loucura e a clarividência, duas mulheres separadas por dois mil anos de História partilham o mesmo segredo, nas encruzilhadas e labirintos de uma perseguição milenar.

Opinião - "Carbono Alterado"



Denso e movimentado, Carbono Alterado é uma mistura intrigante da imaginação de William Gibson, da violência do cinema japonês, da envolvência do Roman Noir e do charme de Blade Runner.


No século XXV é difícil morrer para sempre. Os humanos têm um stack cortical implantado nos corpos onde a consciência é armazenada, podendo ser feito um download para um novo corpo se necessário. E enquanto o Vaticano tenta banir essa actividade para os católicos, o secular multimilionário Laurens Bancroft contrata Takeshi Kovacs para descobrir quem assassinou o seu último corpo. A polícia diz que foi suicídio, mas Bancroft sabe que nunca se mataria.
A consciência de Kovacs, cujo último corpo acabara de ter uma morte violenta a muitos anos de luz da Terra, é inserida no corpo de um polícia para investigar este estranho caso. E, para o resolver, Kovacs terá, entre outras coisas, de destruir alguns inimigos do passado e lidar com a atracção que sente por Kristin Ortega, a mulher que amava o corpo onde ele agora se encontra.
Num mundo onde a tecnologia já oferece o que a religião apenas promete, onde os interrogatórios em realidade virtual significam que se pode ser torturado até à morte e depois recomeçar de novo, e onde existe um mercado negro de corpos, Kovacs acaba de descobrir que a última bala que lhe desfez o peito é apenas o começo dos seus problemas…

Opinião:

Este livro levamos para o séc XXV, onde os homens tem a sua consciência armazenada num stack cortical e quando é necessário podem fazer o download para um corpo novo.

Assim conhecemos o Takeshi Kovacs, um enviado (tipo de Força Especial) do Mundo de Harlan que é enviado para a Terra, depois de uma violenta morte, para investigar o alegado suicídio de um poderoso magnata chamado de Laurens Bancroft.


Ao chegar a Terra é posto num corpo de um policia condenado por vários crimes e tem de aguentar o controlo da Kristin Ortega, uma polícia que era a namorada do dono original do corpo. 


Numa história de ficção cientifica o autor consegue inventar uns conceitos inovadores como o facto de toda a consciência ser armazenada numa "pilha". Também há questões religiosas presentes na história, com a minoria católica se recusar a re-imangada (mudança de corpo)  e a luta dos mesmos com a Resolução 365.


Takeshi Kovacs é uma personagem com um sentido de humor negro, muito perspicaz, e um homem algo violento e que ainda sofre pela morte da Sarah.  

O enredo está bem construído, com algumas reviravoltas bem surpreendentes. Mas com algumas partes do livro serem demasiado paradas. Com descrições bastantes gráficas de combates e de sexo. É um excelente livro para todos os amantes da Ficção Cientifica. 


Pontos fortes: A originalidade do enredo. A personagem Takeshi Kovacs e o seu humor negro.


Pontos fracos: Algumas partes são bastante paradas. Demasiados conceitos pouco explicados. 


Nota: 6,5-10



27 de março de 2011

Finalmente foi anunciado o quarto livro do Ciclo da Herança



Segundo o site "Shurtugal"  vai ser publicado no próximo dia 8 de Novembro o quarto livro do "Ciclo da Herança" que no original se irá chamar "Inheritance". Espero que em Portugal o livro ainda seja publicado este ano.

26 de março de 2011

Inicio de colaboração com o site "Análises Literárias"



A partir de hoje vou iniciar uma colaboração com o site "Análises Literárias" do David Andrade, publicando também lá as minhas criticas. Se notarem umas pequenas diferenças nas criticas foi para se ajustarem ao novo formato pedido.
Espero que vocês também possam seguir com atenção este excelente projecto do David, que a partir de hoje conta com a minha modesta ajuda.

Se quiserem também podem seguir o site no Facebook.

25 de março de 2011

Sangue Mortífero a venda a partir do dia 15 de Abril


Sinopse: 


"Com a excepção de Sookie Stackhouse, os habitantes de Bon Temps, no Louisiana, pouco sabiam sobre vampiros e nada sobre lobisomens. Até agora. Lobisomens e metamorfos revelaram finalmente a sua existência ao mundo e isso poderá ter custado a vida a alguém que Sookie conhecia. Mas a sua determinação para descobrir o responsável pelo homicídio é posta de parte perante um perigo muito maior. Uma raça de seres sobrenaturais (mais velhos, poderosos e muito mais misteriosos do que os vampiros ou os lobisomens) prepara-se para a guerra. E Sookie, enredada ainda na teia de antigos amores, ver-se-á como peão demasiado humano nesta batalha..."

19 de março de 2011

Même Literário


1 - Todos da saga "As Crónicas de Gelo e Fogo" do George R.R. Martin.


2 - "Os Leões de Al-Rassan" do Guy Gavriel Kay sem dúvida o melhor stand-alone que já li.


3 - Para alem do livros acima mencionados "Duna" de Frank Hebert.


4 - Vou deixar aqui uma lista de blogues que gostava de ver a participar. 
Os Devaneios da Jojo
A minha biblioteca
As Histórias de Elphaba 
As Leituras do Corvo 
Bookeater/Booklover 
Estante de Livros 
Lydo e Opinado! 
mira46 
Morrighan
A Magia do Livros


5 - A Cat SaDiablo do blogue "A Bibliófila"


Desafio todas as pessoas a fazer esta Même!!

18 de março de 2011

Opinião - "O Dardo de Kushiel"



Uma escritora do mais alto nível. Quando acabei de ler só queria que os livros nunca acabassem -George R.R. Martin

TERRE D'ANGE é um lugar de beleza sem igual. Diz-se que os anjos deram com a terra e a acharam boa... e que a raça resultante do amor entre anjos e humanos se rege por uma simples regra: ama à tua vontade. Phèdre é uma jovem nascida com uma marca escarlate no olho esquerdo. Vendida para a servidão em criança, é comprada por Delaunay, um fidalgo com uma missão muito especial... Foi, também ele, o primeiro a reconhece-la como a eleita de Kushiel, para toda a vida experimentar a dor e o prazer como uma coisa só. Phèdre é adestrada nas artes palacianas e de alcova, mas, acima de tudo, na habilidade de observar, recordar e analisar. Espia talentosa e cortesã irresistível, Phèdre tropeça numa trama que ameaça os próprios alicerces da sua pátria. A traição põe-na no caminho; o amor e a honra instigam-na a ir mais longe. Mas a crueldade do destino vai levá-la ao limite do desespero... e para além dele. Amiga odiosa, inimiga amorosa, assassina bem-amada; todas elas podem usar a mesma máscara reluzente neste mundo, e Phèdre apenas terá uma oportunidade de salvar tudo o que lhe é mais querido.

Opinião:

Escolhi este livro na oferta 2=3 da Saída de Emergência, muito por causa da insistente recomendação do Paulo. E só posso dizer que foi uma excelente recomendação. 

A história deste livro passa-se num mundo baseado na Europa. Terre D'Ange fica situada no território onde fica a França. Fica aqui um pequeno mapa da saga. Uns dos pontos fortes do livro é a variedade de culturas existentes e a boa descrição das mesma.




A protagonista  desta saga é a Phèdre nó Delauney, uma jovem rapariga com uma marca de Kushiel no olho. Ela é vendida a Casa da Noite pelos seus pais. Aos dez anos ela entra é adoptada pelo Anafiel Delauney. Alguns anos depois por seu desejo e devido a sua marca que a marca como uma anguissette, ela dá o corpo ao serviço a Naamah, em Terre D'Ange a prostituição é considerado um serviço sagrado. 

Gostei muito da personagem do Anafiel, um homem sério que esconde o seu passado aos seus pupilos. A Phèdre devido a sua marca e a sua escolha de entrar ao serviço não consegue atingir o prazer sem dor. Melisande é uma personagem misteriosa e bastante perigosa. 

Este livro tem um bocado de tudo. Intrigas na corte, guerra, cenas de sexo, espionagem e um excelente enredo e boas personagens e só posso dizer que irei seguir esta saga com muita atenção. 

Avaliação: 8-10

Opinião "Exílio"



Os leitores de Harry Potter cresceram. E esta é a série que vão ler.

Após renegar a sua própria família e partir para longe de Menzoberranzan, a sua pátria, Drizzt tem que aprender a sobreviver e conquistar um novo lar no imenso labirinto dos túneis subterrâneos onde se ocultam criaturas das trevas. Mas o verdadeiro perigo parte da sua própria raça e Drizzt terá que estar atento a sinais de perseguição, pois os elfos negros não são um povo misericordioso...
Venha descobrir Drizzt, o elfo negro, uma das personagens mais lendárias da fantasia. E acompanhe-o na épica e intrépida jornada para longe de um mundo onde não tem lugar... em busca de outro, na superfície, onde talvez nunca o aceitem.

Opinião:

Este é o segundo livro da trilogia o "Elfo Negro", que me levou a reencontrar com o Drizzt Do'Urden, um drow que abandonou as tradições maléficas do seu povo e Menzoberranzan, a grande cidade dos elfos negros.

Os acontecimentos deste livro passam-se 10 anos depois do final do "Pátria". Drizzt viveu esse tempo todo isolado no Subescuro tendo como única companhia a sua pantera mágica Guenhwyvar. Nesse período de isolamento ele tornou-se num terrível caçador. 

Algum tempo depois numa patrulha Drizzt encontra uma patrulha de duendes a explorar minério e a partir ele procura desesperadamente sair do isolamento em que se encontra. Depois dessa decisão ele encontra alguns bons amigos mas muito diferentes dele e um terrível inimigo enviando pela sua mãe a Matrice Do'Urden.

Como no outro livro, este livro livro é passado num ambiente negro e com um enredo bem construído. Gostei bastante da luta interior do Drizzt com o seu lado mais negro e dos seus progressos como guerreiro. 

Este é um livro que recomendo sem qualquer dúvidas, e agora estou ansiosamente a espera do último livro da trilogia. 


Avaliação: 8-10

12 de março de 2011

A minha colecção de livros




Ora a minha colecção já vai em 78 livros em apenas no ano e meio em que me dediquei mais profundamente a literatura. 


E a tua biblioteca está bem recheada?
Sabes exactamente quantos e que livros tens?


Aqui fica a minha lista de livros: 


1 - Charlaine Harris -Sangue Fresco
2 - Christopher Paolini - Eragon
3 - Christopher Paolini - Eldest
4 - Christopher Paolini - Brisingr
5 - George R. R. Martin - A Guerra dos Tronos
6 - George R. R. Martin - A Muralha de Gelo
7 - George R. R. Martin - A Fúria dos Reis
8 - George R. R. Martin - O Despertar da Magia
9 - George R. R. Martin - A Tormenta de Espadas
10 - George R. R. Martin - A Glória dos Traidores
11 - George R. R. Martin - O Festim dos Corvos
12 - George R. R. Martin - O Mar de Ferro
13 - J.R.R. Tolkien - O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel
14 - J.R.R. Tolkien - O Senhor dos Anéis - As Duas Torres
15 - J.R.R. Tolkien - O Senhor dos Anéis - O Regresso do Rei
16 - J.R.R. Tolkien - O Hobbit
17 - J.R.R. Tolkien - As Aventuras de Tom Bombadil
18 - J.R.R. Tolkien - Contos Inacabados de Númenor e da Terra Média
19 - J.R.R. Tolkien - O Silmarillion
20 - J.R.R. Tolkien - Os Filhos de Húrin
21 - Robin Hobb - O Aprendiz de Assassino
22 - Robin Ho bb - O Punhal do Soberano
23 - Robin Hobb - A Corte dos Traidores
24 - Stephenie Meyer - Crepúsculo
25 - Stephenie Meyer - Lua Nova
26 - Stephenie Meyer - Eclipse
27 - Stephenie Meyer - Amanhecer
28 - Stephenie Meyer - Nómada
29 - Richard Morgan - Carbono Alterado
30 - Juan Miguel Aguilera - A Loucura de Deus
31 - Raymond E. Feist - O Mago - Aprendiz
32 - Robin Hobb - A Vingança do Assassino
33 - Anne Bishop - Filha do Sangue 
34 - Patrick Rothfuss - O Nome do Vento
35 - John Le Carré - A Gente de Smiley
36 - Marion Zimmer Bradley - A Senhora da Magia
37 - Marion Zimmer Bradley - A Rainha Suprema
38 - Marion Zimmer Bradley - O Rei Veado
39 - Marion Zimmer Bradley - O Prisioneiro da Árvore
40 - Ricardo Pinto - A Dança de Pedra do Camaleão - Os Escolhidos
41 - Ricardo Pinto - A Dança de Pedra do Camaleão - Os Guardiões dos Mortos
42 - Pamela Freeman - Laços de Sangue
43 - Ricardo Pinto - A Dança de Pedra do Camaleão - O Terceiro Deus
44 - Robin Hobb - A Demanda do Visionário
45 - Raymund E. Feist - O Mago - Mestre
46 - Martin S. Braun - Alex 9 - A Guardiã da Espada
47 - Bernard Cornwell - A Demanda do Graal - Harlequin
48 - Bernard Cornwell - A Demanda do Graal - O Vagabundo
49 - Bernard Cornwell - A Demanda do Graal - O Graal
50 - Susana Clarke - Jonathan Strange & o Sr Norrell
51 - Frank Herbert - Duna
52 - Guy Gavriel Kay - Os Leões de Al-Rassan
53 - Paulo Fonseca - Império Terra - O Princípio
54 - Ken Follett - Um Mundo sem Fim - Volume I
55 - Ken Follett - Um Mundo sem Fim - Volume II
56 - R.A. Salvatore - Pátria
57 - Ken Follett - Os Pilares da Terra - Volume I
58 - Ken Follett - Os Pilares da Terra - Volume II
59 - Ken Follet - A Queda dos Gigantes
60 - Martin S. Braun - Alex 9 - A Coroa dos Deuses
61 - George R.R. Martin - Sonho Febril
62 - Robert Charles Wilson - Darwinia
63 - Rodrigo McSilva - Escritos Ancestrais - Campos de Odelberon
64 - Susana Almeida - Estrela de Narien - Sombras de Morte
65 - Susana Almeida - Estrela de Narien - O Renascer
66 - Elizabeth Chadwick - Sombras e Fortalezas
67 - Jean M. Auel - O Clã do Urso das Cavernas - Os Filhos da Terra
68 - Peter V. Brett - O Homem Pintado
69 - Peter V. Brett - A Lança do Deserto
70 - Bernard Cornwell - Agincourt
71 - Bernard Cornwell - O Último Reino
72 - Bernard Cornwell - O Cavaleiro da Morte
73 - Bernard Cornwell - Os Senhores do Norte
74 - Bernard Cornwell -  A Canção da Espada - Batalha de Londres
75 - Bernard Cornwell - Terras em Chamas
76 - Raymond E. Feist - O Mago - Espinho de Prata
77 - R.A. Salvatore - Exílio 
78 - Jacqueline Carey - O Dardo de Kushiel

11 de março de 2011

Poster "Game of Thrones"

Memória das Estrelas sem Brilho



Sinopse:



Na Memória das Estrelas sem Brilho, conta-se a história de um estudante universitário que é obrigado a interromper o curso para comandar um grupo de expedicionários que o governo português em 1917 enviou para as trincheiras da Flandres. A sua trajectória e a dos homens que comanda, nas pequenas e grandes misérias de que foram vítimas e na ligação ao que deixaram e ao que perderam, resulta num retrato emocionante e autêntico de um dos períodos mais conturbados da sociedade portuguesa.
Romance de guerra, mas também romance de amor, Memória das Estrelas sem Brilho relata a tão inútil quanto obstinada busca da paz e da felicidade através de um caminho de escombros e flores cortadas, capacho do tempo e dos seus caprichos.
Afirma o crítico Milton Azevedo que, «além de seu valor literário como narrativa de ficção propriamente dita, constatável à primeira leitura, o romance tem grande interesse como retrato da sociedade portuguesa, que forma o background da narrativa. O narrador, homem de seu tempo (ou tempos) e classe social, tem uma visão tão nítida da sua sociedade quanto é possível esperar de alguém que nunca pôde sair dela para observá-la de fora. É, portanto, uma visão naïve, informada apenas por elementos colhidos dentro daquela sociedade. Mas é uma visão arguta, porque o narrador é um indivíduo inteligente e lúcido. E complementada, é claro, pela visão, indirectamente transmitida ao leitor, do Rato, que é um verdadeiro co-protagonista (e não apenas um sidekick) - um pouco, mutatis mudantis, como Sancho Pança, sem o qual o Quixote ficaria impensável.»

Noite em Viena

Sinto um sabor metálico na boca. Sangue.
Não sei quanto tempo passou, penso que ando a desmaiar, mas os pensamentos são incoerentes, fogem, dançam como que a zombar da minha confusão.
Frio. Sinto frio. Sei que estou nu, sei que estou preso e sei que estou deitado num chão velho e poeirento. Uma pequena luz invade o quarto, cela, onde quer que me tenham colocado. Vejo um arbusto que abana loucamente rendido aos caprichos do vento.
Oiço um barulho, leve, como se alguém estivesse a bater numa parede distante. Não tenho a certeza. Tento recordar como cheguei até aqui, Principalmente onde é o aqui.
Sinto água a escorrer pela minha cara, está fresca, mas com sabor a mofo. Enjoa-me. Acabo por vomitar.
Acordo com um cheiro azedo, volto a tentar perceber onde estou. É de dia. Oiço o trânsito normal de uma grande cidade. Pessoas que prosseguem a sua vida, normalmente, enquanto eu estou na situação mais anormal da minha vida.
Acordo com a cabeça a latejar. As dores são fortes, mas o raciocínio está mais claro. Já sei onde estou, pelo menos onde penso estar. Oiço um som. Finjo que estou a dormir.
Através de uma minúscula abertura das pálpebras, vejo uma imagem estranha. Um homem, julgo ser um homem, usa uma máscara de demónio, daqueles que se vê nas noites de Halloween. Assusta-me. O coração bate rápido, alerta. Pela primeira vez percebo, realmente, o perigo mortal em que me encontro.
O monstro, nome que lhe dei para fornecer algum equilíbrio mental, assobia uma qualquer canção infantil. Não que conheça, mas o ritmo só pode ser de uma canção infantil.
Vejo-o parado a olhar para mim. O meu coração acelera feito louco, mas não mostro estar consciente. Há algo naqueles olhos, única parte visível do seu rosto, que me assusta. Há maldade neles. Há morte.
Fecho totalmente os olhos, como quando era criança e levava os cobertores à cara para fazer os monstros desaparecerem. Que falta me faz o cobertor agora.
Oiço a porta a bater. Um som metálico indica que uma chave a fecha.
Tento organizar os meus pensamentos. Tenho medo do que posso recordar, mas é a única alternativa.
Recordo-me do comboio. Do riso dos meus amigos, incitando-me a aproveitar a noite para me esquecer dela. Sorrio e digo que sim, sabendo que nada, por agora, me fará esquecê-la. Quem nem vontade de viver tenho.
Lembro-me de percorrer as ruas de Viena a pensar nos seus famosos cafés. Cruzo-me com uma jovem, fico de queixo caído. Os seus olhos verdes são como esmeraldas na montra de uma joalharia, combinando com o ouro dos seus cabelos. Viena. Também conhecida por mulheres lindíssimas.
Uma forte dor de cabeça interrompe o esforço de memória que estava a fazer. Desisto. Descanso.
Novamente sou acordado por aquele homem mascarado, desta vez não finjo que estou a dormir. Grito. Choro. Imploro. Ameaço. Tudo em vão. Aquela estranha figura fica apenas a olhar para mim. Percebo que há algo de errado com ele. A forma como movimenta as mãos, indicam uma deficiência qualquer. Ainda aumenta o meu receio. Vejo-o partir. Sem saber se aliviado ou aterrorizado. Sei que vai voltar.
Concentro-me, tento regressar às minhas memórias.
Lembro-me de continuar o caminho, sem saber bem para onde ir. Queria apenas diversão, nada mais. Bem, não é verdade. Queria sim o bálsamo para a dor que me atormentava. Não há dor como aquela em que se perde um amor.
Vejo um bar de aspecto curioso. Duas figuras grotescas, fazem lembrar gárgulas, estão a ladear a entrada vazia e suja. Penso duas vezes, olho para trás, mas decido avançar. Chega de ter medo.
Sinto uma diferença na temperatura, calor, bem-vindo. Entro e peço uma bebida e depois outra. Acabo por me sentir agitado, alcoolicamente bem-disposto.
Não me recordo dos motivos, mas vejo-me a enfrentar um tipo qualquer. Não percebo uma palavra do que ele diz, mas o seu olhar impõe respeito. Ainda assim, como prometido, chega de ter medo.
Mais fácil dizer do que fazer. Lembro-me de estar a correr, perdido entre ruas estreitas e vazias ou outras enormes e agitadas. Não sei o que fiz, mas ele não desiste. Corre e eu corro também.
Enquanto olho para trás, embato contra alguém. Olho em frente, assustado, e reparo numa idosa que por milagre não foi ao chão. As suas compras estão todas espalhadas, fico indeciso entre a ajudar, desculpar-me ou fugir. Olho para trás.
O meu perseguidor está ali, a olhar para mim. Recua, desiste. Penso que não quis armar confusão ao lado da idosa.
Apresento-me e fico a saber que se chama Ingrid e que eu tinha acabado de derrubar o jantar do seu gato Angel.
Ofereço-me para a ajudar a levar as compras para a casa dela. Primeiro rejeita, como que assustada, depois, relutantemente, aceita.
Fazemos a curta viagem a trocar poucas palavras sobre a cidade e os seus perigos.
Oiço um grito. Alguém em total desespero. Depois outro grito, mais fraco, abafado, como se tivesse morrido à nascença. Percebo que não devo ser o único.
Faço um esforço, desesperado, para me lembrar do resto.
Chegamos à porta. Ofereço-me para ajudar a levar as compras para cima. O olhar da mulher nem permite discussão. Não está disposta a deixar um estranho subir.
Fico a vê-la colocar a chave à porta do prédio, as mãos tremem, cansadas ou doentes, e impedem a velhota de realizar a simples tarefa. Olha para mim, meio com vergonha, meio com desespero. Ofereço-me para abrir a porta, ela aceita. Pergunto se não quer que leve as compras para cima, desta vez aceita. Penso que receia não conseguir abrir a porta de casa.
Coloco a chave à porta, oiço o som metálico, antigo, a permitir a nossa entrada. Algo me incomoda. O cheiro. Um odor agridoce invade o ar. É um cheiro que me faz lembrar algo, apenas não consigo situar o quê.
Oiço um ronronar e conheço o famoso Angel, o gato. É preto, brilhante e com olhos verdes, pergunto-me se em Viena tudo o que é belo possui olhos verdes?
Diz-me para ficar à vontade, e aponta a sala de visitas. A casa é velha, com o tal odor que me incomoda, mas há algo de misterioso. Há figuras de formas estranhas, diabólicas mesmo, espelhadas pela casa. A mulher era uma excêntrica, só podia.
Entro na sala e o piano branco capta a minha atenção. Fico maravilhado com o brilho e a beleza de fantástico instrumento.
Sinto algo a roçar nas minhas pernas, o gato, enquanto oiço a velhota a entrar na sala.
Convida-me para jantar e afirma não aceitar um não como resposta. Diz-me que já não se fazem jovens bem formados como eu e que o segredo para o bem-estar dela é uma boa alimentação. Aceito o convite.
A idosa oferece-me um prato se sopa. O cheio é hediondo. Mas o sabor, apesar de grumoso não é mau. Salgado.
Sinto o coração a acelerar. A mente fecha-se, não quer continuar a relembrar. Sinto que estou perto de resposta.
Ainda não estou a meio do prato quando começo
Dores de cabeça enormes. Fecho os olhos, massajo a têmpora, tentando diminuir a pressão que sinto. É como claustrofobia dentro do meu próprio cérebro. Não devia insistir, sei disso, mas preciso de saber a resposta.
Ainda não estou a meio do prato quando começo a ficar zonzo. Apago. Não me recordo de mais nada. A princípio, depois, lembro-me de ser arrastado por uma estranha figura, mascarada. Parece um demónio, mas aqueles olhos são mesmo de demónio.
Enquanto sou arrastado, vejo um corpo no chão da cozinha. Calculo que acabei de comer o que falta do mesmo. Os vómitos sobem à garganta, ficam espalhados pelo chão e pelo meu cabelo.
Sou atirado para um quarto minúsculo, sinto-me a bater com força no chão. Fico tonto. Apago.
As lágrimas correm pelo meu rosto. Agora sei que aquele brutamontes não quis evitar um confronto nas ruas da cidade, quis evitar a velha.
Recordo o resto dos meus amigos. Recordo o resto os meus pais. Recordo o resto dela.
Em breve, muito em breve, também eu irei ser parte da dieta saudável da velha Ingrid.
Aceito o meu destino. Não tenho como lutar contra ele.

Por: Miguel Brito

Sou o número Quatro


Este livro estará a venda a partir do dia 15 de Março pela Editorial Presença. 
Sinopse:
Numa pequena cidade no estado do Ohio, John Smith, de quinze anos, é um dos nove jovens
que conseguiram abandonar o planeta Lorien antes de este ter sido destruído pelos
Mogadorianos e, por esta razão, tem andado escondido toda a sua vida, mudando
constantemente de identidade e de localização. Agora John quer parar de fugir e enfrentar
o seu destino.

Opinião - "O Mago - Espinho de Prata"



Algumas das personagens mais ricas de toda a fantasia.

Durante quase um ano, a paz reinou nas terras encantadas de Rillanon.
Porém, novos desafios aguardam Arutha, Príncipe de Krondor, quando Jimmy Mãozinhas – o mais jovem larápio do Grémio de Mofadores – surpreende um sinistro Noitibó prestes a assassiná-lo.
Que poder maléfico faz erguer os mortos e leva cadáveres a combater os vivos por ordem do Grémio da Morte? Que magia poderosa poderá derrotá-los? O novo Rei de Midkemia corre perigo por se envolver numa expedição de vida ou morte em busca de um antídoto para o veneno que fez sucumbir a bela Princesa no dia do seu casamento…

Opinião:

"O Espinho de Prata" é o terceiro livro da saga "O Mago". Os acontecimentos neste livro tem lugar um ano depois do final do "O Mago - Mestre".

Embora o livro ainda siga as aventuras de Pug agora a história está mais focada no Príncipe Arutha. No casamento de Arutha com Anita um assassino tenta matar o príncipe mas devido a interferência do Jimmy Mãozinhas o assassino falha o disparo da besta, mas o dardo envenenado  atinge a Princesa Anita. 

Depois do envenenamento da sua amada Arutha com a ajuda dos seus amigos mais próximos vão a procura da cura para o estranho veneno que o assassino usou. 

Gostei muito deste livro que tem uma personagem que eu simplesmente adorei e ele o Jimmy Mãozinhas, um jovem ladrão de Krondor que ao saber de uma tentativa de assassinato do Arutha, vai logo avisar o Arutha.
O Jimmy também tem uma boca grande e diz tudo aquilo que pensa seja que com o Rei Lyam ou com um simples camponês. E tem uma ambição desmedida!

Gostei imenso deste livro, que com um enredo bem conseguido, boas personagens uma boa mescla de romance e humor faz deste um livro a ler. Espero que o livro,  "A Darkness at Sethanon", que finaliza esta saga, seja traduzido brevemente pela Saída de Emergência. Recomendado!

Avaliação: 9-10

8 de março de 2011

Finalmente mais umas compras



Algumas das personagens mais ricas de toda a fantasia.

Durante quase um ano, a paz reinou nas terras encantadas de Rillanon.
Porém, novos desafios aguardam Arutha, Príncipe de Krondor, quando Jimmy Mãozinhas – o mais jovem larápio do Grémio de Mofadores – surpreende um sinistro Noitibó prestes a assassiná-lo.
Que poder maléfico faz erguer os mortos e leva cadáveres a combater os vivos por ordem do Grémio da Morte? Que magia poderosa poderá derrotá-los? O novo Rei de Midkemia corre perigo por se envolver numa expedição de vida ou morte em busca de um antídoto para o veneno que fez sucumbir a bela Princesa no dia do seu casamento…



Os leitores de Harry Potter cresceram. E esta é a série que vão ler.

Após renegar a sua própria família e partir para longe de Menzoberranzan, a sua pátria, Drizzt tem que aprender a sobreviver e conquistar um novo lar no imenso labirinto dos túneis subterrâneos onde se ocultam criaturas das trevas. Mas o verdadeiro perigo parte da sua própria raça e Drizzt terá que estar atento a sinais de perseguição, pois os elfos negros não são um povo misericordioso...
Venha descobrir Drizzt, o elfo negro, uma das personagens mais lendárias da fantasia. E acompanhe-o na épica e intrépida jornada para longe de um mundo onde não tem lugar... em busca de outro, na superfície, onde talvez nunca o aceitem.



Uma escritora do mais alto nível. Quando acabei de ler só queria que os livros nunca acabassem -George R.R. Martin

TERRE D'ANGE é um lugar de beleza sem igual. Diz-se que os anjos deram com a terra e a acharam boa... e que a raça resultante do amor entre anjos e humanos se rege por uma simples regra: ama à tua vontade. Phèdre é uma jovem nascida com uma marca escarlate no olho esquerdo. Vendida para a servidão em criança, é comprada por Delaunay, um fidalgo com uma missão muito especial... Foi, também ele, o primeiro a reconhece-la como a eleita de Kushiel, para toda a vida experimentar a dor e o prazer como uma coisa só. Phèdre é adestrada nas artes palacianas e de alcova, mas, acima de tudo, na habilidade de observar, recordar e analisar. Espia talentosa e cortesã irresistível, Phèdre tropeça numa trama que ameaça os próprios alicerces da sua pátria. A traição põe-na no caminho; o amor e a honra instigam-na a ir mais longe. Mas a crueldade do destino vai levá-la ao limite do desespero... e para além dele. Amiga odiosa, inimiga amorosa, assassina bem-amada; todas elas podem usar a mesma máscara reluzente neste mundo, e Phèdre apenas terá uma oportunidade de salvar tudo o que lhe é mais querido.

Opinião - " A Gente de Smiley"



Sinopse:

O telefonema que certa noite arranca da cama George Smiley, chefe interino do Circus, é uma súplica para que volte ao serviço activo. Mas, como em breve Smiley descobrirá, é para enterrar o caso que o chamam, e não para o solucionar.

Um velho conhecido morto a tiro em Hampstead Heath, uma mulher de idade residente em Paris a quem foi prometido o regresso de uma filha que nunca verá, uma fotografia tirada num bordel de Hamburgo - e George Smiley, já na reforma, é de novo convocado para o serviço…

Opinião:

Este livro de espionagem é o ultimo livro de uma trilogia, mas que dá para se ler como um stand-alone, como eu fiz. 

Smiley agora um reformado agente secreto do Circus, recebe um telefonema a dizer que o general Vladimir foi morto e pedem-lhe para investigar a morte do seu antigo informador e amigo. 

Smiley nas suas investigações com a ajuda de Toby Esterhase, consegue apurar que o seu rival soviético apenas conhecido pelo nome de código Karla está por detrás da morte do general Vladimir, um dissidente do Exército Vermelho e activo lutador pela independência dos Países Bálticos (Estónia, Lituânia e Letónia) . 


Num ritmo algo lento, para um livro do seu género mas com uma escrita fluída e um bom enredo este livro é uma boa forma para se passar umas horas entretidas a ler. 

Avaliação: 7-10 

5 de março de 2011

Redenção

O nascer de um dia quente e agradável escondia a verdadeira história que se iria escrever.
De farda vestida percorro o caminho, gasto e vazio, tantas vezes feito, para o castelo. Sem o brilho no olhar que iluminava a primeira vez que o caminhei, de peito cheio, orgulhoso pela tarefa que cumpria.
Recordo-me como se fosse hoje. Não do primeiro dia de trabalho, do início de tudo.
A religião, claro, levou o mundo a um ponto de ruptura. O que se seguiu foi o esperado, nada de anjos ou de paraísos. Morte. Apenas e só a morte.
A população mundial definhava, África foi irradiada do mapa. Os primeiros a pagar a factura das loucuras cometidas em nome de um poder superior.
Os Estados Unidos, outrora protectores do mundo, foram arrasados, destruídos por fundamentalistas mais preocupados com um livro velho e poeirento do que com a sua própria vida.
O Vaticano tomou conta das operações. Tal como os cruzados de outros tempos, sangue foi derramado entre fiéis e infiéis de ambos os lados. Todos eles eram infiéis.
Não houve um vencedor. Na guerra nunca há vencedores, apenas vencidos.
O mundo inteiro perdeu. Sociedades desabaram, reergueram-se, para novamente tombarem perante falsos profetas da salvação.
O fim estava próximo, não que os quatro cavaleiros do apocalipse cavalgassem as ruas à procura de pecadores, mas os grupos organizados que aterrorizavam os sobreviventes, faziam com que esse parecesse melhor destino.
Como em todos os momentos decisivos da história, surge um salvador. Como sempre, um como não há memória, magnifico, puro e casto. Um ditador.
Sem políticas reconhecíveis, apenas proclamava a necessidade de ordem. O povo, inicialmente relutante, concordava com as ideias que o mesmo gritava aos quatro ventos.
Pouco a pouco, como uma nuvem de fumo que enche uma sala, ganhou espaço e poder. Poder. Palavra maldita nas mãos erradas. Será que alguma vez houve mãos certas?
O mundo é agora o seu quintal. Podre e esquecido, mas seu.
Milhões foram exterminados. Muitos outros foram escravizados. Tudo para bem do mundo, dizia ele. Todos os que podiam concordavam, esperançosos de escapar ao trágico fim que assolava os restantes.
Também eu concordava, não por medo. Por esperança.
Turquia. É aqui que as minhas lembranças se tornam turvas e amargas, que me levam ao inferno e um pouco mais abaixo.
Fui treinado, convencido de que era uma honra ser confiado com o maior tesouro do Ditador.
Inicialmente pensei que fosse guardar os amaldiçoados livros que continham o conhecimento proibido e pelo qual já tantos tinham morrido. Não, fui guardar algo muito mais proibido.
Mulheres. Se há algo que nem os ditadores ignoram, é o prazer do sexo. Este não era excepção, pelo contrário, era um predador.
Ainda me lembro do curto voo, agitado e conturbado, até à Roménia. Até ao emprego de sonho. Ao paraíso. Ao inferno.
Fui levado ao castelo, por um caminho novo, brilhante e limpo, que conduzia à porta dos escolhidos, os eleitos que iriam guardar o tesouro. Com um brilho de orgulho imenso instalado no meu olhar, enchi o peito com o ar do novo mundo.
Nunca me irei esquecer o trajecto que percorri após o fecho da porta metálica e pesada. Um longo corredor, fresco e bem iluminado. Pequenas janelas convidam os raios de sol a entrar, deixando o calor lá fora.
Enquanto caminhava, apenas o som dos meus passos e da minha pesada respiração enchia o lugar. Era como a noite mais escura passada num cemitério vazia de fantasmas dementes. Silêncio em estado puro. Aterrador.
Senti, ainda mais, o peso da responsabilidade quando vislumbrei aquela porta. Não era metálica mas sim de madeira. Tinha uma forma circular, como se fosse a rolha de uma garrafa de um qualquer líquido pecaminoso.
Dois companheiros estavam colocados à porta, vestindo o mesmo uniforme vermelho, cor do Ditador. Ambos pareciam irritados, algo que me deixou sorridente. Ninguém gosta de ficar à porta do paraíso e não puder entrar.
A rolha, como registei mentalmente, foi aberta. Um mundo de véus, cortinas, sofás e poltronas luxuosas, camas redondas e rectangulares explodiu à minha frente. A sala era gigantesca, surreal. Vi centenas de mulheres. Todas elas lindas, perfeitas.
O olhar recaiu, lascivo, numa jovem asiática. Não deveria ter mais de vinte anos. Era de uma beleza inexplicável. Os traços orientais do seu rosto pareciam perfeitas pinceladas de um qualquer génio da pintura. Tal beleza não podia ser real.
Foi apenas um exemplo dos muitos que me assombraram.
Vi centenas de belezas a desfilar à minha frente. Todas elas silenciosas, expectantes. Receosas.
Os primeiros dias foram vividos no fascínio carnal que apenas um homem adulto pode compreender. O tempo mudou esse fascínio para um sentimento bem diferente.
Os meses foram passando, trazendo chuva e vento ou uma suave brisa. Por vezes um calor infernal. Estações do ano que corriam apagando um pouco a minha ilusão de que o mundo estava parado. Como se o globo tivesse amuado como uma criança pequena e desistido de rodar sobre o seu eixo.
Já a tinha visto, claro. Seria impossível, passado tanto tempo, não ver uma daquelas mulheres. Mas algo ocorreu de diferente desta vez. Não sei se foi alguma expressão mais resignada na sua cara oval, clara como uma boneca de porcelana. Talvez algo no brilho triste das safiras que embelezavam o rosto. Percebi que o brilho de um olhar que se escondia por detrás de uma vida miserável, no seu esplendor, deixaria envergonhado o mais belo ovo Fabergé
Fui desperto dos meus devaneios quando o chefe do harém agredia, brutalmente, uma das concubinas a soldo.
Nesse instante todos os anos de treino para exercer esta função evaporaram como água turva de uma poça de verão. Sabia que nada disto era correcto. Mas um homem nada pode contra o mundo. E o dono da prisão era o dono do mundo.
Os dias foram passando, mais lentamente, e procurei formas de manter aquela mulher perto de mim. Não que a pudesse proteger, na verdade nem coragem teria de tentar, mas, tal como uma força superior, não me conseguia conter.
Acredito que com o tempo tenha sido perceptível, tanto para ela como para os outros guardas, mas não seria o primeiro tolo apaixonado por uma meretriz do mundo novo.
Passava os dias a controlar os meus impulsos, cada vez menos carnais, para não a poder prejudicar. Uma mulher era uma pechincha comparada ao custo de um guarda do meu nível.
Já não visitava os campos de treino, onde jovens, após verem vendida a sua virgindade por verbas exorbitantes, eram possuídas diariamente pelos guardas para se tornarem experientes nas artes da sedução. Um paraíso ao início.
Agora não afastava da minha mente a possibilidade de ela ter passado pelo mesmo, por um acto bárbaro que tantas vezes cometi. Aos 18 anos, eram consideradas prontas para a venda diária dos suspiros de quem as procuravam. Recebiam o colar vermelho, ornamentado com uma esmeralda ou safira. Uma peça de joalharia fantástica, que não passava de uma marca do destino que os novos deuses, donos do mundo, libertadores da opressão, tinham escolhido para elas.
Os dias assumiram um ritmo lento, triste e sufocante. Algo tinha mudado dentro de mim. O quê, não o sabia explicar.
Todas as semanas a via ser escolhida, levada a contra gosto. A sua cara apresentava os traços de alguém que já não acredita que valia a pena respirar. Como uma maria rapaz obrigada a frequentar ballet, os seus passos não possuíam qualquer graça, os movimentos do corpo não eram fluídos ou sedutores. Talvez fosse isso que agradasse a alguns dos senhores que compravam o seu corpo.
Semana após semana, eu morria mais um pouco.
Um dia, quando a vi chegar, com o cabelo atado num perfeito rabo-de-cavalo com a ponta descaindo para o ombro esquerdo, andando miserável, como que amaldiçoada, exibindo o colar com a safira que era ofuscada pelo brilho triste do seu olhar, sabia que tinha de tomar uma decisão.
Ponderei, durante semanas, como a ajudar. Os dias passavam agora a uma velocidade alucinante. E a chuva que lá fora fustigava o terreno montanhoso que circundava esta prisão carnal, não melhorava o meu estado de espírito.
Elaborei um plano. Mal calculado, mal concebido e a rasar o desesperado. Mas era o melhor que tinha e, principalmente, a única esperança para ela.
Nunca lhe tinha dirigido uma palavra, recusava-me a ser eu a escoltá-la sempre que passava por aquela porta. Na cumplicidade única de quem habita diariamente o inferno disfarçado de paraíso, entre nós, guardas, revezávamos as escoltas para evitar o sofrimento que habitava nos nossos corações de pedra.
Não sei quantos anos ela habitou aquela divisão maldita, recheada de quartos e de espaços comuns, com uma decoração lasciva e sufocante. As velas com cheiros aromáticos que queimavam diariamente, impregnava na pele o aroma artificial de flores que apenas nos sonhos podiam ver agora. As informações eram passadas à moda antiga, um papel com o número da concubina pretendida e qual a porta para onde deveria ser escoltada. Tudo sistemático, burocrático mesmo. Até na exploração este governo gostava de controlar tudo ao mais ínfimo pormenor.
Chegou o dia que pretendia. Apesar de toda a cumplicidade entre os guardas, uma fuga era uma possibilidade que nunca foi ponderada.
Ao receber o número dela, Karin era o seu nome, desloquei-me com ela à porta errada. Vi a surpresa no rosto dela quando me viu escolta-la, o seu olhar interrogava-se como quem questionava se também aquele, eu, teria desistido dela.
Ao mostrar a folha ao guarda, fui repreendido por a porta não se a correcta. Assenti, olhando para os seios parcialmente descobertos da meretriz como que desculpando a minha distracção com aquela visão. O guarda sorriu. A tal cumplicidade assume contornos diferentes entre os que guardam a porta do que julgam ser o paraíso ou daqueles que vivem no verdadeiro inferno encerrado entre aquelas paredes de decoração luxuosa.
Apontou a direcção das escadas para onde me deveria dirigir por forma a entregar a concubina ao guarda correcto. Pelo caminho, reuni toda a coragem em mim.
- Não há tempo para explicar. Quando virares à direita, vais encontrar no chão, por trás da estátua de bronze do guerreiro celta, um fato de criada. Veste-o sem demoras.
Não obtive o prazer de ouvir o som da sua voz, como se duvidasse se sonhava ou não, piscou os olhos rapidamente e assentiu.
Vestiu-se com destreza e rapidez, forçando-me a olhar para longe quando o seu corpo nu me provocava suores frios e arrepios em todo o corpo.
Aproximei-me. Vi que se encolheu, como uma presa que julga que apenas mudou de carcereiro. Quando viu a faca nas minhas mãos o seu rosto tornou-se ainda mais branco, se tal fosse possível. Como se as gotas de sangue se recusassem a habitar o rosto angelical que possuía.
- Calma – disse enquanto erguia as mãos em sinal de paz – Tenho de tirar-te a coleira ou vão perceber que não és uma simples criada.
Vi dúvida no seu rosto, como uma criança que não sabe se a pergunta do professor tem rasteira. Acedeu a que me aproxima-se, mantendo as mãos à volta do peito, abraçando-se com força como eu desejava abraça-la.
O colar cedeu com facilidade. A segunda parte do plano era mais complicada. No entanto, se resultasse, pelo menos uma vida poderia ser salva.
Levei a concubina vestida de criada até outro corredor. Ao chegar à frente do guarda indiquei-lhe que me deixasse passar. Face à sua cara de espanto e incerteza quanto ao que fazer, disse-lhe:
- Ouve bem meu estúpido – soltando uma quantidade considerável de saliva enquanto falava – apanhei esta cabra a roubar um dos colares das meretrizes. Vou leva-la a um quarto e mostrar-lhe o que se faz a quem usa estes colares. Tens alguma coisa contra?
Como se percebesse que era melhor para a sua saúde, ou talvez o receio que houvesse alguma verdade nas minhas palavras, Karin debateu-se, olhando o guarda com súplicas murmuradas.
- Não meu irmão – respondeu com um sorriso – faz o que tens de fazer e deixa essa ladra presa no quarto. Em breve vou dar-lhe a mesma lição que tu. Se quer um colar tem de o merecer – piscou-me o olho, cúmplice.
Sorri e passei em direcção aos quartos. Onde as crianças eram violadas. Entramos num que estava vazio. Pude ver o desespero no seu rosto, com ódio por ter sido enganada.
- Calma! – ergui novamente as mãos em sinal de paz – Tinha de dar uma desculpa credível. Agora vais passar por aquela janela – apontei para a paisagem de uma montanha circundada por uma planície cor de trigo – Vais seguir na direcção do pico da montanha. Irás levar contigo um burro e um cesto que deixei presos a aquela árvore – apontei de novo, tentando ter a certeza que ela me ouvia com atenção – se alguém perguntar, respondes que vais levar fardas dos seguranças ao armazém da destruição.
Vi que ela olhava para os locais que eu apontava com um receio em misto de puro estado de êxtase. A liberdade com que ela tinha tantas vezes sonhado, estava ali. À distância de um salto de uma janela.
- No burro irás encontrar um cesto com dinheiro e indicações sobre o que fazer. Segue-as e serás livre. – Sorri
- Porque me ajudas? – Parou ao ver o embaraço na minha cara – Porque arriscas a tua vida?
- Porque estes senhores do mundo não passam de vampiros. Seres do mal que ocupam as noites sugando a felicidade e a alegria das vossas vidas. São seres que nem uma estaca pode parar, talvez uma revolta, talvez um dia. Mas, para isso ser possível, são necessárias lendas, mitos e boatos. Algo que dê esperança aos outros, que mostre que é possível. Eu e tu. Nós vamos começar por mostrar que é. – Terminei olhando em volta, afastando o olhar dos seus olhos cintilantes.
Sem qualquer palavra, abraçou-me. Pude sentir as suas formas sedutoras contra o meu corpo abstinente. Não me senti tentado. Poderia ter possuído o seu corpo ali mesmo, sendo mais um dos que corromperam a sua alma. Mas a minha escolha estava feita e não passava de um amor platónico. Puro. Saudável, pelo menos para ela.
Sem demoras transpôs a janela que a separava dos horrores que tinha vivido para a liberdade que tanto ambicionava. Fiquei prostrado a ver as suas formas, decididas, avançando para a liberdade. Não traia quem era, pertencendo ao mundo que a rodeava sem qualquer dificuldade.
Fugi. Não por mim, o meu destino estava selado. A forca teria mais um cliente, um exemplo. Mas, era exactamente essa a minha escolha, ser um exemplo para que outros possam arriscar.
Passado um dia fui encontrado, nas ruínas de uma casa luxuosa que o tempo tinha derrubado. Fui condenado sem julgamento e não conheci juiz, apenas carrasco.
De farda vestida percorro o caminho, gasto e vazio, tantas vezes feito, para o castelo. Sem o brilho no olhar que iluminava a primeira vez que o caminhei, de peito cheio, orgulhoso pela tarefa que cumpria. Não, não era inteiramente verdade. O orgulho que tenho é imensamente superior.
Com as mãos presas por algemas ferrugentas, sigo o caminho. A farda mostrava que a justiça atinge todos, até aqueles que se asseguram que os outros a sigam.
Vi, com esperança, olhares tristes e desolados dos meus companheiros, os outros carcereiros. Sabia que, para eles, seria uma lenda. Alguém que, por um amor verdadeiro, desafiou todas as regras. Quantos iriam percorrer os mesmos passos que percorro hoje, não sei, mas sentia que não seria o último a pagar por este crime. Quem sabe, um dia, não sejam os senhores do mundo que percorram este caminho gasto e vazio.
Enquanto a corda me é posta à volta do pescoço, penso nela. Penso que sorri, contente. Livre. Peço a Deus, um qualquer, real ou imaginário, que ela se esqueça de tudo o que aqui sofreu. Se assim for, se para isso ajudar, que até se esqueça de mim. Com um sorriso, é assim que vou desafiar a morte. Sorrio.

Por: Miguel Brito