1 de novembro de 2010

Elizabeth Chadwick


Sombras e Fortalezas

Romances históricos há muitos. Leia apenas os melhores - como os de Elizabeth Chadwick.

Inglaterra, 1148. Brunin é um rapaz de dez anos marginalizado pela própria família. Uma criança reservada, é atormentado pelos irmãos e desprezado pela avó autoritária. Numa tentativa de torná-lo um herdeiro de quem se orgulhe, o pai envia-o para a casa de Joscelin, Senhor de Ludlow, onde Brunin irá aprender as artes da cavalaria. Mas, antes que o consiga, terá que ultrapassar a insegurança e as dúvidas que sente sobre si próprio. Hawise, a filha mais nova de Joscelin, cedo forma uma forte amizade com Brunin. As alianças de família forçam o seu pai, com o jovem como seu pajem, a auxiliar o Príncipe Henrique na sua batalha pela coroa inglesa. Entretanto, o próprio Senhor de Ludlow é ameaçado pelo seu rival, Gilbert de Lacy. Enquanto prossegue a luta pela coroa e o rival se prepara para atacar, Brunin e Hawise cedem à paixão.
É então que as propriedades da sua família são atacadas e Brunin tem de mostrar o que aprendeu. Mas estará a jovem Hawise do seu lado, num mundo onde os poderosos raramente respeitam os ideais de cavalaria? Brunin terá que enfrentar o futuro com coragem... ou perder tudo.



Filhas do Graal 

As mulheres descendentes de Maria Madalena possuem dons místicos que ameaçam os poderes estabelecidos. E agora a Igreja quer acabar com eles...

França, século XIII: Bridget cresceu aprendendo a controlar os dons místicos da sua antepassada Maria Madalena, cuja ininterrupta linhagem feminina manteve vivo um legado de sabedoria durante milénios. Mas agora, a todo-poderosa Igreja Católica jurou destruir Bridget por usar os seus talentos curativos e as suas habilidades naturais. O dever de Bridget de continuar a linhagem leva-a até aos braços de Raoul de Montvallant, um católico. E quando a intolerância selvagem da Igreja leva Raoul a rebelar-se, a intolerância cresce para uma ânsia de vingança que só poderá ser saciada com uma cruzada de sangue.




O Nó do Amor 

Uma maravilhosa história de amor em tempo de guerra, que irá apaixonar as leitoras.
No verão de 1140, Oliver Pascal regressa de uma longa peregrinação para encontrar a Inglaterra devastada pela guerra civil. Entre os sobreviventes que encontra está um filho ilegítimo do rei e Catrin, a jovem aia do rapaz. Viúva, altiva e impetuosa, esta tem muito em comum com Oliver. E quando parece que o destino talvez os vá juntar, eis que ele é feito prisioneiro e Catrin descobre que o seu marido afinal não morreu em batalha. Mas será que ela quer voltar para ele? Um romance histórico apaixonante, onde Elizabeth Chadwick nos mostra que mesmo com os perigos de uma época violenta e as convulsões de uma guerra contínua, o amor pode nascer e sobreviver.



O Leão Escarlate 

Amor, traição, vingança. O novo livro da romancista histórica mais vendida em Inglaterra.

A coragem e lealdade de William Marshal como cavaleiro ao serviço da casa real inglesa foram recompensadas com a sua união a Isabelle de Clare, uma rica herdeira de propriedades na Inglaterra, Normandia e Irlanda. Mas a segurança e felicidade do casal são destruídas quando o rei Ricardo morre e é sucedido pelo irmão João, que toma os filhos de Marshal como reféns e apropria-se das suas terras. O conflito entre os que permanecem leais e os que se irão revoltar contra as injustiças ameaça destruir o casamento de William e Isabelle e arruinar as suas vidas. William terá que optar por um caminho desesperado que o poderá levar à governação do reino. E Isabelle, receando pelo homem que é a luz da sua vida, terá que se preparar para enfrentar o que o futuro lhes reserva.

31 de outubro de 2010

Uns mapas que dão muito jeito



Fui esta manhã ver o site do livro Campos de Odelberon, quando me deparei com uma série de mapas e um glossário que tanto jeito fazem ao ler o livro. Eu acho que vou mandar encadernar estas pequenas grandes ajudas. 



Site oficial - Campos de Odelberon
Ficheiros em PDF:
- Mapas
- Glossário  


Mudanças

O dia começou como era normal. Com todos os rituais matutinos completos e então parti para a minha viagem também ela habitual.
Caminhando pelas ruas de Lisboa, senti a brisa que envolvia o dia quente. Abstrai-me do mundo, tal como fazia todos os dias. Caminhei, pensando nas próximas horas onde teria de estar fechado no escritório, sem nada divertido para fazer. Mas assim é o mundo e a diversão vai ficando perdida nas memórias de anos passados.
Os meus passos eram cansados e irregulares. Cansados pela falta de vontade e de café e irregulares pela maldita calçada portuguesa. Parei junto a uma tabacaria, com a curiosidade normal de ver os títulos dos jornais. Contemplando também o meu reflexo, vi algumas rugas a aparecer nos cantos dos olhos. A idade já não perdoa. Os meus olhos castanhos tinham perdido a curiosidade natural e o brilho que outrora tanto sucesso tinha tido. As entradas que agora surgiam tornavam surreal a memória de alguma vez ter possuído uma farta cabeleira castanha. Ainda assim, pensei, nada mau, para um tipo com quarenta anos.
Retomei a minha viagem, e parei junto à passadeira, o sinal estava vermelho. Por um momento, apenas um me deixei absorver pelo mundo que me rodeava. Vi um jovem, no máximo nos seus dezasseis anos. Não olhou para o sinal, atravessou a estrada. Não sei explicar o que senti, corri. Lembro-me de o ter empurrado e depois, depois nada.
Senti-me a acordar, ao início estava entorpecido. Mas depois, nunca me tinha sentido assim. Uma energia quase sobrenatural tomava conta de mim. Olhei então à volta e senti-me perdido. Lisboa com o peso do passado tinha desaparecido. Estava agora numa gigantesca planície, parecia não ter fim. Relembrava-me algo, mas não sabia onde tinha visto tal paisagem.
Senti então o aroma pela primeira vez, cheirava a manteiga derretida na frigideira. Sempre tinha sido o meu cheiro favorito, desde miúdo. Sorri, com genuína vontade. Algo em mim parecia dividido, estava precisamente no que parecia ser o meio da planície.
Segui para sul, sempre tive uma paixão secreta pela palavra sul. Mas como sabia eu que aquele lado era o sul? Não sabia, mas acreditava que sim. Iniciei então, mais uma vez, a minha viagem. Depois de ter caminho durante o que me pareceu horas, vi ao longe uma mansão branca. O estranho é que sendo esta uma planície enorme e a mansão genuinamente gigantesca, como não a tinha visto antes? Naturalmente segui viagem até à porta da mesma. Bati à porta e entrei.
- Olá! Está alguém? – Perguntei com boa educação.
O que me surpreendeu foi que apesar de ter visto uma gigantesca mansão, o interior desta era um pequeno quarto com uma porta. Limpo, com um aroma a canela. Uma mesa e duas cadeiras completavam o cenário. A porta abriu-se.
- Senta-te – Pediu um velho que entrou na casa.
Assim o fiz.
- Sabes porque estás aqui? – Perguntou ele
- Provavelmente é efeito das drogas no hospital – respondi estranhamente agastado contra o velho.
- Longe disso meu amigo. Estás aqui por ser parte do teu caminho. – Referiu com um sorriso brilhante.
- Caminho? Qual caminho? – Perguntei, agora curioso
- O que todos devemos fazer. – Respondeu sem fazer qualquer sentido.
Nesse momento o velho levantou-se da sua cadeira, e onde antes estava a porta, surgiu agora uma cómoda. Abriu uma das gavetas e retirou um embrulho.
- Abre – disse enquanto me entregava um pacote – É o teu bilhete de entrada.
Abri e dentro estava uma echarpe de uma cor fantástica. Azul misturada com verde. Nunca tinha visto tal cor, mas passou a ser a minha preferida. Quando voltei a olhar para cima, estava de novo na planície.
A casa e o velho já não estavam lá, ou talvez eu já não estivesse. Continuei a caminhar segurando o pacote. Estava com sede, não me tinha apercebido disso antes, mas tinha sede.
Ao longe, pareceu ter visto algo em movimento. Caminhei até lá. Vi um mar de um cor-de-rosa infantil. As ondas possuíam uma beleza indiscritível para os meus olhos. Quando me aproximei, a água perdeu a sua cor, tornou-se num espelho do mundo. Estranhei, mas não mais do que a casa desaparecida. Ajoelhei-me ao pé da água, curioso para sentir a sua temperatura. Quando a encarei, o meu rosto tinha desaparecido. Era agora uma cara animalesca, melhor dizendo, focinho. Comprido, peludo. Tinha duas cores predominantes, o preto e o branco separados por riscas. Assustado fechei os olhos, e levei um pouco de água à cara. Focinho. Senti a frescura desta e o seu gosto doce na boca. Será que era um rio? Mas então como tinha ondas? Nada disto fazia sentido. Abri os olhos e voltei a colocar as mãos na água. Onde antes tinham estado as minhas mãos experientes e calejadas, estavam agora garras, afiadas. Senti-me um animal, parecia um animal.
Desesperado quis correr, e corri. O mais depressa que podia. Pelo caminho coloquei as mãos que já não o eram no focinho onde antes tinha a cara. Nada tinha mudado. Os cheiros assumiam agora uma experiencia totalmente nova.
Enquanto corria, pareceu-me ver um acampamento perto de uma qualquer construção. Corri para lá. Saltando com uma agilidade, agora, animal por cima de várias pedras e ruinas de uma antiga casa, conseguia sentir o chão verdadeiramente áspero. Todos os meus sentidos estavam apurados. Quando cheguei perto do acampamento, fiquei abismado com o que vi. Estavam quatro lagartos gigantes e humanóides a beber chá. Sentados à volta de uma mesa que também não me era estranha, bebiam com os humanóides dedos esticados como qualquer tia de Cascais. As quatro cabeças se voltaram-se para mim.
- Queres chá? É fresco! De mentol! O teu favorito. – Perguntou um deles
- Não. Só quero saber o que faço aqui – supliquei
- Fazes a tua viagem – respondeu outro dos lagartos
- Que viagem é esta? E porque raio sou agora um animal? E como é que os lagartos bebem chá? – Parecia louco enquanto perguntava tudo isto
- Bebemos chá porque não gostamos de café – respondeu ofendido o terceiro lagarto a falar – É a viagem que todos temos de fazer – completou
- E porque pareço um animal? – Insisti
- Porque tens espírito de um. Ratel mais propriamente. – Respondeu o último dos lagartos
- Só quero saber como acabo esta viagem – pedi
- Na torre – responderam os quatro – Mas para lá chegares, tens de vencer um de nós. – Avisou o lagarto
- Vencer? Do que raio estão vocês a falar? – Perguntei, sentindo-me estúpido e drogado por estar a falar com lagartos.
- Eu sou a Desilusão. Os meus irmãos são a Cólera, Medo e Traição. – Apresentou-se e aos seus irmãos o primeiro dos lagartos que tinha falado comigo – E o Medo já te escolheu.
Sem mais qualquer palavra ou oportunidade de perguntas, o lagarto agora conhecido por Medo, atacou. Fui violentamente espancado, sem nunca perceber o que se estava a passar. Aos poucos comecei a responder, algo dentro de mim me impelia a continuar, a nunca desistir. A força deste animal povoava agora a minha alma. Já não havia medo. E foi aí que percebi. Tinha medo de perder e não puder completar a minha viagem. Como tal sabia a resposta.
- Rendo-me – Declarei – Ficarei aqui com vocês pois esse é o meu maior medo.
- Palavras sábias – Disse Cólera – Venceste o novo medo dentro de ti, podes passar. – Disse apontando o caminho para uma ponte.
Atravessei a ponte e encontrei uma cabana. Entrei. Sorri com a diferença para a mansão. Esta cabana era enorme por dentro, tinha várias portas e escadas e possui duas cores apenas. Preto e branco.
- Trazes o bilhete? – Perguntou uma voz atrás de mim
Virei-me e vi uma criança, em tudo normal. Menos nos olhos. Ambos possuíam espirais giratórias, como daquelas que se olharmos muito tempo ficamos zonzos. Um tinha fundo branco e riscas negras e o outro era o oposto.
- Sim tenho. – Disse enquanto entregava o pacote que o velho me tinha dado – bilhete para onde? – Perguntei curioso
 - Para o destino que te for dado. – Respondeu. Era difícil perceber se olhava para mim ou através de mim.
- Tudo em ordem, podes seguir. Sobes a escada à tua direita e entras na segunda porta vermelha. Não na azul! – Disse enquanto se afastava atarefado
Assim fiz como me foi dito, quando acabei de subir as escadas, passei as mãos pelo cabelo, surpreendido de já não ser um Ratel. Já gostava daquela estranha forma. Fui em direcção à porta, tendo olhava para a azul com uma mórbida curiosidade. Algo me tentava, mas sabia que não era esse o meu destino. Abri a porta.
- Mãe ele está a acordar! – Ouvi o meu irmão muito ao longe – Já saiu do coma.

Por: Miguel Brito

29 de outubro de 2010

Os Pilares da Terra

O livro "Os Pilares da Terra" da autoria do galês  Ken Follett foi adaptado para uma mini-série.
Pode ver mais informações e trailers no site oficial "The Pillars of the Earth".


Amaldiçoado

O amaldiçoado continuava a sua viagem. Trajava um longo manto negro que cobria o seu rosto putrefacto. Quem o visse podia simplesmente confundi-lo com a morte. A maior diferença subsistia no verde-esmeralda que os seus olhos irradiavam.
Com o cajado que auxiliava a subida do monte, entre a erva que lhe toldava os movimentos ao vento que o empurrava de volta, pensava no objectivo final. Era isso que importava. Ao fundo a primeira cidade que via em duas semanas de caminho cansativo.
Aproximou-se das portas da cidade, e foi ignorado pelos guardas que já conheciam a lenda do amaldiçoado. Ninguém falava com ele a menos que fosse estritamente necessário.
Sentiu, como sempre, o poço dos desejos. Caminhou até ele. O pequeno tanque tinha pouca água e poucas moedas. Tinha musgo no fundo e a sua cor era turva. Escolheu a moeda mais valiosa. Era o seu ritual, quanto mais tivesses dispostos a pagar por um desejo maior o seu direito era ao mesmo. Recuperou a moeda, aperto-a e desapareceu.
Encontrou um jovem sentado num muro. Quando alguém era seleccionado pelo amaldiçoado era levado para o seu lugar feliz. Lá seria feita a proposta, a recolha e o pagamento.
- O que desejas rapaz? – Perguntou o amaldiçoado ao jovem de cara simples e bonita.
- Desejo ser outra pessoa. Porque me procuras amaldiçoado? – Respondeu e perguntou o jovem.
- Porque o teu desejo é valioso. Porque tu queres algo e eu preciso de algo. – Respondeu honestamente o amaldiçoado
- Quero ser uma mulher.- Respondeu o jovem.
- Desculpa? Em tantos anos que percorro estes caminhos, nunca ninguém me pediu tal coisa. Posso perguntar qual o motivo de tamanho desejo? – Questionou o caminhante
- Porque o amor é uma coisa complicada. Porque amo um homem e não uma mulher. Porque ele me vê como um amigo de farras e me fala das suas conquistas. Porque o quero amar e ser amado. – Respondeu soluçando o jovem.
- Confesso que não compreendo. Mas um desejo é um desejo. – Afirmou o amaldiçoado
Retirou da sua bagagem uma espécie de funil com tampa. Entregou o estranho objecto ao jovem.
- O preço é o último grito de um homem apaixonado. Grita com todas as tuas forças. – Exigiu o amaldiçoado
A proposta foi feita, a recolha foi feita. O pagamento produziu no que antes era um jovem simples e bonito, uma mulher linda. Cabelos castanhos, olhos castanhos. Sorriso doce e afável. Tudo o que ele, agora ela queria. Mais um cliente satisfeito.
A viagem continuou. Atravessou a floresta fresca, convivendo com animais e plantas. Naquele lugar especial não era temido nem odiado.
A próxima cidade chegou mais rápido do que esperava. Sabia que ainda teria mais uma paragem antes do objectivo final estar conseguido. Estes desejos estavam a correr bem. Já tinha quase tudo o que precisava. Avançou até ao poço dos desejos em tudo semelhante ao anterior, escolheu a moeda mais cara e desapareceu.
Ficou admirado quando viu um urso sentado ao pé de um rio. Felizmente tinha a capacidade de falar com os animais. Caso contrário estaria preso até poder realizar o desejo.
- Explica-me o que faz um urso a atirar moedas para um poço de desejos? – Exigiu o amaldiçoado
- Eu não sou um urso. Bem sou mas nem sempre o fui. Antes era um homem, era bonito, rico e poderoso. E para meu azar despedacei o coração de uma bruxa. Transformou-me em urso. – Contou o urso que já tinha sido homem.
- Então queres voltar a ser humano certo? É fácil. – Disse o amaldiçoado
- Não! Os ursos têm mais sorte! Fazem sexo mais vezes, lutam mais vezes e passeiam na floresta. O problema é a concorrência. Quero ser diferente. – Disse o urso
- O que queres na verdade? Cinco patas? – Ironizou o caminhante, pensando no quão estúpido teria sido enquanto humano, aquele urso.
- Quero ser cor-de-rosa. As miúdas gostam. Espero que as ursas também. – Disse o urso enquanto lambia as patas.
- O preço é pelo de animal extinto por vontade própria. – Avisou o amaldiçoado
O caminhante retirou uma tesoura especial da sua bagagem. Pegou num frasco fusco e cortou alguns pelos ao urso. Prontamente guardou os mesmos e viu o urso ganhar uma cor rosada. “Não hás-de durar muito, vais ficar bem numa cabana de caçadores” pensou o homem dos desejos.
Seguiu o seu caminho, sempre de olhos no destino final, no objectivo.
Atravessou a estrada velha e poeirenta que conduzia ao centro do reino. Uma paragem antes e provavelmente com alguma sorte estaria acabada a missão.
Ao entrar na pequena cidade, foi rapidamente para o poço dos desejos. Olhou durante muito tempo para as moedas, por fim lá escolheu uma. Feito o processo do costume, desapareceu.
Numa enorme planície circundante à cidade, encontrou uma jovem sentada num tronco de uma árvore. Estava sentada a olhar para o céu.
- Qual é o teu desejo? – Perguntou o caminhante.
- Quero ser bonita. Quero ser especial. Quero ser recordada. – Disse a jovem
O amaldiçoado percebeu o desejo da jovem. Era a mulher mais feia que tinha visto até hoje. Os seus cabelos loiros eram fracos a apresentavam muitas falhas. Os olhos tinham um azul bonito, mas tinham vontade própria, apontando sempre em direcções diferentes.
- Queres ser a mulher mais bonita da cidade? É fácil tudo o que preciso - Dizia o caminhante até ser interrompido
- Não! Quero ser diferente. Queria ser um arco-íris. Nem que fosse por um dia. Queria que todos olhassem para o céu e admirassem a minha beleza. – Disse envergonhada a jovem
-Mas assim não irás viver. Durarás um dia apenas. – Argumentou o caminhante
- É o meu desejo. O que tenho de pagar? – Perguntou a jovem.
- Nada. Depois recebo o meu pagamento. Vou fazer de ti o mais belo arco-íris de sempre. – Prometeu meio comovido o amaldiçoado.
E assim surgiu nos céus do reino o mais belo arco-íris de sempre. As suas cores possuíam uma beleza indiscritível. Ninguém olhou para o céu sem abençoar o dia em que viu aquele milagre. O amaldiçoado caminhou até à ponta inicial do arco-íris, escavou um pouco e retirou uma moeda de ouro do pote que lá estava. Guardou a moeda num recipiente estranho com forma de cubo.
Assim continuou a viagem até à cidade principal do reino. Ao entrar olhou para o castelo, nostálgico. Estava quase no destino. Encontrou a porta que procurava, abriu. Encontrou o seu velho mestre.
- Já tenho tudo o que preciso. Fazes a poção ainda hoje? – Perguntou o amaldiçoado
- Ainda insistes em tornar possível o teu amor pela rainha? Tu estás morto e condenado a percorrer a terra em busca de ingredientes para as minhas poções, achas que é o tipo de vida que a rainha quer? – Perguntou e argumentou o velho mestre.
- Não me importa o que ela quer. Fui condenado por amar a mulher do rei. Impossível dizem. Mas ela também me amou. E sei que irá escolher caminhar comigo pela terra a definhar sozinha naquele palácio. – Disse o caminhante com os olhos verdes pregados no chão.
Assim o mestre fez a poção, e o caminhante bebeu. Podia sentir cada um dos desejos que tinha concedido para estar perto do seu sonho. O objectivo. Quando acabou de beber, os sinos da igreja tocaram. O povo soube que tinha morrido um membro da família real. Será que ela iria compreender a sua escolha? Se não o fizesse seria complicado. Mas nada que outra poção não resolvesse.


Por: Miguel Brito

Nova edição do livro "Leões de Al-Rassan"



A nova edição tem um prefácio do autor e o mapa que falta me fez na outra edição.
Este livro tem a minha recomendação! Estou desejando que saía o livro "Tigana", porque este escritor é simplesmente formidável.


Sinopse:




Uma aventura elegantemente escrita e bem trabalhada... tão rápida e ritmada como pensativa.

Imagine uma Península Ibérica de fantasia, durante o período sangrento e apaixonante da Reconquista, onde realidade e fantasia se entrelaçam numa história poderosa e comovente.

Inspirado na História da Península Ibérica, Os Leões de Al-Rassan é uma épica e comovente história sobre amor, lealdades divididas e aquilo que acontece aos homens e mulheres quando crenças apaixonadas conspiram para refazer – ou destruir – o mundo. Lar de três culturas muito diferentes, Al-Rassan é uma terra de beleza sedutora e história violenta. A paz entre Jaddites, Asharites e Kindath é precária e frágil, mas é precisamente a sombra que separa os povos que acaba por unir três personagens extraordinárias: o orgulhoso Ammar ibn Khairan – poeta, diplomata e soldado, o corajoso Rodrigo Belmonte – famoso líder militar, e a bela e sensual Jehane bet Ishak – física brilhante. Três figuras cuja vida se irá cruzar devido a uma série de eventos marcantes que levam Al-Rassan ao limiar da guerra.

28 de outubro de 2010

Viagem

Acordei sobressaltado. Com a respiração ofegante e o corpo húmido do suor, não conseguia tirar da minha mente o maldito sonho. Ou pesadelo. Com a noite já perdida sabia o que tinha de fazer. Levantei-me e ao espelho escovei os longos cabelos loiros, vesti uma túnica verde para contrastar com o negro dos meus olhos. Dirigi-me à biblioteca, se o sábio estivesse em algum lugar do palácio, seria ali.
Ao entrar no recanto mais calmo do castelo fiquei, como sempre, abismado com a sua beleza. As pedras de mármore que serviam de chão possuíam um padrão que parecia aleatório mas, que tinha os seus segredos. Mas hoje não ia em busca deles. As estantes repletas de livros perfumavam o ar com o seu cheiro a folha antiga e sabedoria acumulada. Como gostava daquele cheiro. Ao fundo ouvi páginas a serem viradas, e tive a certeza que tinha encontrado quem procurava.
- Velho sábio, boas noites – Interrompi delicadamente a sua leitura.
- Boas noites meu príncipe – Respondeu o velho.
- Tive de novo o mesmo pesadelo. A cobra volta para me matar. Já não consigo dormir uma noite seguida. – Confessei, atrapalhado.
- O príncipe sabe que eu só respondo às perguntas. Não foi feita nenhuma. Não há resposta a dar. – Respondeu entretido com as páginas do seu livro.
- Quero saber o significado da vida. Tenho a certeza que o último bibliotecário de Alexandria sabe a resposta. O famoso Mahatma. O velho que em jovem viu mundos sem fim e sabe todas as respostas. – Disse, quase exigindo uma resposta.
- A isso já lhe posso responder. Em Alexandria não havia o segredo para o significado da vida. Mas príncipe,prepare uma viagem apenas com alguns mantimentos. Leve esta garrafa azul com o néctar dos deuses. Quando souber a resposta beba um gole e estará novamente perante este seu velho servidor. – Desafiou-me o bibliotecário.
Assim fiz o que me fui sugerido. Numa pequena trouxa reuni alguns mantimentos, saí escondido da cidade sem comunicar nada ao rei. Sabia que me ia tentar impedir, assim ganhava algum tempo. E então começou a minha viagem.
Caminhei duas semanas por entre estradas poeirentas e secas e planícies verdes e frescas. Bebi água doce nas margens de rios de um profundo azul e dormi sobre a protecção de árvores que pareciam dançar ao sabor do vento. Ao fim dessas duas semanas ao longe avistei uma vila. Pensei que ali estaria o significado da vida.
Logo à entrada, um pequeno homem possuía uma bancada parcamente preenchida com alguns livros. As capas velhas e queimadas chamaram à minha atenção. Não que os livros me fossem desconhecidos, já os tinha visto na nossa biblioteca, mas porque a história destes parecia muito mais interessante. Assim chamei o vendedor.
- Meu bom homem, qual é a origem destes livros. – Perguntei educadamente.
- Senhor são as mais belas relíquias de Alexandria. Antes dos bárbaros a terem queimado claro está. Se Não vir o que procura diga que aqui o Abhay encontra tudo. Conheço alguns comerciantes do norte que possuem algumas verdadeiras maravilhas. Não para o homem comum mas para alguém do seu porte senhor. – Respondeu o bom vendedor
- Procuro o livro que me diga o significado da vida. – Disse com tremenda honestidade.
- Meu senhor o significado da vida não se encontra num livro. Mas sim no ar que respiramos e na água que bebemos. – Respondeu com um sorriso o vendedor
Irritado com tamanha falta de respeito, abandonei a banca dos livros. Quem era o desgraçado para me dizer o que era o significado da vida? Devia mandar que lhe cortassem a cabeça. Assim continuei a minha viagem.
Subi as montanhas proibidas enfrentando uma tempestade de neve como há muito não se via. Descansei perto dos ninhos das águias e alimentei-me das minhas parcas provisões. Para dormir procurava uma qualquer gruta abandonada por um urso após a hibernação. O inverno terminou, e com a primavera chegou a segunda vila que visitei. O ar estava repleto com polén das flores. Sempre fui alérgico e não parava de espirrar. No meio de um ataque de espirros, senti um encontrão. Rapidamente me senti mais leve e percebi que tinha sido assaltado. Olhei em redor e vislumbrei o meu alvo. Um jovem com sorriso traquina e longos cabelos vermelhos tentava esconder o seu olhar expectante face às conclusões desta sua vítima. Com o treino que tinha, parti em perseguição ao rapaz. Correndo em direcção à floresta, saltamos sobre vedações e deitamos abaixo vários troncos de um ferreiro. Os gritos de ameaça que o homem furiosamente soltava fizeram com que sorrisse enquanto perseguia o ladrão. Há muito tempo que não me sentia tão vivo. Felizmente o desgraçado escorregou. Com o chão irregular da floresta, escondido perante as lindas flores púrpuras o jovem não pode ver a pedra em que tropeçou.
- Ladrão! – Gritei – Devolve-me as minhas provisões ou considera-te um homem morto. – Ameacei
- Tenha calma amigo. Desculpe. É que tinha fome e o senhor não me parece ter problemas em conseguir mais comida. – Confessou o jovem
- Como te chamas rapaz? – Perguntei interessado
- Ajala o carteirista. – Respondeu orgulhoso.
- Carteirista? O que é um carteirista? – Perguntei ainda meio confuso
- Oh, sabe é o mesmo que um ladrão. Mas como nunca magoei ninguém, as pessoas inventaram um nome para mim. Também não sei o porquê de carteirista. Mas prefiro isso a Ajala o ladrão. – Respondeu embaraçado.
Confesso que me senti tocado por aquele jovem, depois de uma tamanha perseguição, fazia jus ao seu nome e nunca me tentou atacar. Acabei por partilhar uma conversa e uma parte do meu jantar.
- Procuro a resposta para o significado da vida. – Conclui a minha história
- Meu senhor o significado da vida é simples. Está no fogo que nos aquece e na terra que nos abriga. – Respondeu com um sorriso.
Mais uma vez fiquei irritado e sem uma palavra retirei-me. Quem julgava que era aquele ladrãozito para saber o significado da vida e eu, um príncipe andava à procura da resposta. Assim continuei a minha viagem.
Passados alguns dias, seguindo pela estrada do rei, vislumbrei uma jovem. Achei estranha a forma como se vestia, parecia um rapaz. Mas mesmo ao longe as suas formas femininas e os seus cabelos ondulados não escondiam a sua identidade. Aproximei-me dela por julgar que não era um lugar para uma jovem caminhar sozinha.
- Olá minha senhora. Posso fazer-lhe companhia durante a sua viagem? – Perguntei com todo o respeito.
- É claro que pode. Sei quem é. É o príncipe herdeiro. Já estive num dos seus famosos bailes. – Respondeu com um sorriso pateta. Os seus olhos castanhos possuíam um brilho inteligente e a sua cara dava mostras de uma vontade de ferro. – Sou filha dos duques de Arisp. Mas estou numa demanda pela minha felicidade, contra a vontade dos meus pais, é claro.
- Procuro a resposta para o significado da vida. – Acabei a minha história.
- Meu príncipe a resposta para o significado da vida é simples. É ter a liberdade para seguir os nossos desejos. – Respondeu com um sorriso sábio.
Nesse momento não senti raiva nem irritação. Tinha percebido a resposta. Despedi-me da jovem, desejando sorte na sua demanda. Convidei-a sempre que quisesse para aparecer no palácio, seria uma convidada de honra. Senti-me à beira de uma árvore e de olhos fechados bebi o néctar dos deuses. O mundo deu voltas e voltas e quando tive coragem de voltar a ver o que me rodeava, estava na biblioteca com o sábio.
- Então meu senhor, já descobriu o significado da vida? – Perguntou curioso o sábio.
- Descobri. A vida não possui um único significado, mas sim tantos quantos aqueles que a disfrutam. Sei que a minha busca seria eterna pois cada pessoa que visse teria uma resposta diferente à aquela que procuro. Procurava o significado da vida e o que encontrei foi uma viagem fantástica. Respirei o ar, bebi a água, aqueci-me perante o fogo e abriguei-me na terra. E fui livre. O significado da minha vida é a aventura que escolho viver. – Respondi convicto perante o acenar orgulhoso do velho sábio.

Por: Miguel Brito

Criaturas Maravilhosas


Sinopse


"Lena Duchannes é diferente de qualquer pessoa que a pequena cidade sulista de Gatlin alguma vez conheceu. Ela luta para esconder o seu poder e uma maldição que assombra a família há gerações. Mas, mesmo entre os jardins demasiado crescidos, os pântanos lodosos e os cemitérios decrépitos do Sul esquecido, há um segredo que não pode ficar escondido para sempre.
Ethan Wate, que conta os meses para poder fugir de Gatlin, é assombrado por sonhos de uma bela rapariga que ele nunca conheceu. Quando Lena se muda para a mais infame plantação da cidade, Ethan é inexplicavelmente atraído por ela e sente-se determinado a descobrir a misteriosa ligação que existe entre eles.
Numa cidade onde nada acontece, um segredo poderá mudar tudo.
"