27 de novembro de 2010

Regresso ao Passado

O sinal sonoro marcava as 8 luas de Linker. O Richardo deveria estar a chegar. Sentei-me na poltrona de gel simbiótico e senti o meu corpo a recuperar a energia de anos anteriores. Os antigos nunca teriam acreditado que era possível sentir o que é ter 20 anos aos 85. É uma dádiva.
Olhei para a minha casa. Nunca sonhei que o futuro pudesse ser ainda mais louco que os filmes e séries especulavam. As paredes existiam conforme a minha conveniência, as fotografias eram agora obsoletas e em todas as superfícies passavam vídeos holográficos à minha escolha. O cinema morreu. Agora aparelhos 5D permitem entrar, literalmente, no mundo dos sonhos. Já ninguém quer ver um filme quando pode participar nele. As refeições foram substituídas por batidos dos mais incríveis sabores, totalmente saudáveis. A obesidade desapareceu do nosso mundo. “O que irá ele querer hoje” pensei, enquanto olhava para o marco, estava perto da 9ª lua de Linker e o meu neto não aparecia. “Deve estar em sex5d com alguma colega” pensei, relembrando-me do tempo em que aos 15 anos os miúdos fumavam às escondidas dos pais e desencantavam todo e qualquer lugar para dar uns amassos.
Senti uma vibração na cadeira. Um ecrã holográfico mostrava a cara, imberbe, do Richardo. Os seus olhos azuis brilhavam em direcção ao teletransportador. Assim que o banco de dados verificou o ADN do convidado, pude aceitar o transporte. Segundos mais tarde um jovem estava na sala de estar da minha casa.
- Olá vô – cumprimentou, sem olhar para mim – O meu pai manda dizer que este fim-de-semana não pode vir.
- Olá Richardo – Sorri para ninguém – Diz-lhe para não se preocupar.
Senti que ele já estava à procura do servidor para ir sair com os amigos no webmall. Sempre fui um neto distante e, no entanto, gostava de ter um neto presente. Pensei em como o poderia fazer partilhar algo da vida dele comigo. Pensei, pensei e pensei. Até que cheguei a uma conclusão. Saindo da sala sem ser visto, o que não era difícil, desloquei-me ao comando central da casa. Nunca me tinha habituado às portas à Star Wars. Ao entrar no centro de comando, um ecrã holográfico deu aso a um modelo virtual do engenheiro que construiu o bloco de casas na lua de Linker.
- Qual é a sua necessidade? – Perguntou robótico o engenheiro projectado
- Quero que desligue o servidor 5D
- Isso necessita da mais alta ordem de comando – pediu a projecção
- Bang – disse – Bang – confirmei o código
- Dentro de 3 horas pode activar o servidor – ordenei enquanto saía da sala de comando.
Ao caminhar pelos corredores, fui vendo vários vídeos projectados nas paredes. As casas de hoje não eram frias, solitárias nem brancas como as antigas. Há sempre cor e movimento. Ainda antes de entrar na sala já oiço os suspiros exasperados do meu neto. Faz-me lembrar quando ficava sem internet durante o download de um filme.
- Então Richardo, que se passa? – Sorri, invisível
- Estás sem ligação 5D. Porra não acredito nisto – lamentou – logo agora que a Thelma me ia – parou constrangido.
- Sabes não é por ter 85 anos que não me lembro do que é o sexo. Aliás, lembro-me melhor do que toda a tua geração que apenas o faz no mundo virtual – lancei o anzol – No meu tempo era muito melhor – sempre odiei quando os mais velhos me diziam isto, agora já percebo o porquê.
- Sim vô no teu tempo era melhor e quantas pessoas morreram graças a essa maravilhosa sensação? – Criticou.
- Se quiseres conto-te uma história. Quando a terminar, diz-me se é melhor o mundo 5D. – Sabia que tinha apanhado o peixe.
- Bem na verdade não tenho nada melhor para fazer – lamentou – Conta lá a história.
Com um sorriso dirigi-me para a poltrona de gel. Liguei os fios simbióticos à minha cabeça. Fiz a ligação às paredes. Todos os meus pensamentos seriam transformados em cores e sons ambiente, para dar vida às minhas palavras. Maravilhas do futuro.
Ainda no tempo em que os humanos viviam, apenas, no planeta terra, onde os teletransportadores não passavam de sonhos enclausurados nos livros que lia, os jovens gostavam de respirar o ar puro. Ou não tão puro, a poluição era um grande problema, mas ar, ar real, é seguro de dizer.
Lembro-me como se fosse hoje, talvez por ter sido um dia especial, talvez porque esta poltrona faz milagres, mas lembro. Tinha acabado de jantar, comida a sério e não um batido com sabor a Big Mac do já extinto McDonald's. Se te disser o que jantei, estarei a mentir. Nunca pensei que um jantar fosse uma lembrança digna de guardar, como estava errado. Olhei para o relógio, na altura em que os dias eram chamados de dias e que eram divididos em horas e não em luas. Estava perto da hora combinada com os meus amigos. Sim Richardo amigos. Pessoas com quem partilhei aventuras sem fim, pessoas que choraram no meu ombro e me deram o deles para chorar. Bem sei que hoje em dia a palavra não é usual, já não há amigos. Apenas números num mundo virtual. Não olhes para mim com essa cara, não tenho nada contra o mundo 5D, apenas gostava que o mundo 5D não tivesse nada contra o meu. Desculpa-me o sorriso. Não é educado rir sem partilhar o motivo. Lembro-me de um tempo em que os telemóveis eram o último grito. Primeiro enormes e com antenas, depois começaram a ter cores, fotografias, capacidade de vídeo enquanto se falava, saído da imaginação das tartarugas ninja, internet e por fim GPS. No dia em que ninguém tinha uma desculpa para se perder foi o dia em que o mundo das aventuras morreu. Mas continuando. O meu telemóvel tocou. Uma mensagem dizia-me para descer. Assim o fiz. Encontrei o Gustavo e o Márcio. Dois dos meus melhores amigos. Estavam com uma cara suspeita. Mandaram-me segui-los, rapidamente, e sem barulho. Quando paramos, nem queria acreditar. O Gustavo tinha roubado um carro. Sim Richardo um carro uma daquelas coisas em formato de paralelepípedo com rodas. Já os viste no museu pré-simbiose.
- Avô despacha-te que não tarda está na hora do sono reparador – lembrou-me o neto.
- Sim, claro, não vá algum de nós ter uma dor de cabeça e morrer de pânico. Sono reparador, fez o mundo um lugar de gente cobarde. – Abanei a cabeça
- Vá não sejas antiquado. Para quê ter dores quando dois raios lunares de tempo podem dar-te um dia perfeito? – Contrariou
- Porque com o sono reparador, as pessoas deixaram de dar valor ao dia perfeito. Mas sim, vou continuar a história. Vou resumir um pouco. Não vás ter uma doença rara e mortal por não ires para o banho simbiótico.
Nenhum de nós tinha a carta para conduzir o carro. Aliás, nenhum de nós tinha idade para conduzir um. Passeamos a noite inteira. Fomos apanhar uma amiga nossa. A Júlia. Ai como era bonita Richardo. Tinha o cabelo cor de ouro e uns olhos mais verdes que a lua terrestre após a terceira vaga. Lembro-me que mascava uma pastilha elástica, sabor a mentol. Quando tinha a tua idade, nada era mais bonito que uma cara bonita com hálito a mentol.
Ficamos juntos atrás do carro. Passeamos durante mais umas horas. Miúdos a divertirem-se. O que vem depois, bem já não é tão agradável. Tivemos um acidente. Na brincadeira o Gustavo manobrou mal e embateu com o pneu num passeio. O que é um passeio? No tempo em que as pessoas e os carros partilhavam o direito de ocupar a rua, os passeios garantiam, em teoria, a segurança dos que andavam a pé. Se alguém estivesse a passar ali, não estaria muito seguro.
O Gustavo e o Márcio saíram do carro. Eram os mais velhos. Eu fiquei com a Júlia. Lembro-me que a abracei e lhe disse que iria ficar tudo bem. O cabelo dela tinha um cheiro a flores. Fruto do uso de champôs. Claro que não sabes o que é, desapareceram anos antes de tu nasceres. Na altura em que a água limpava o suor do homem e não o plasma simbiótico. Bons velhos tempos. Enfim, continuando.
Eles avisaram-me que tinham de ir chamar alguém. Era o mais novo, mas o mais terrível. Logo fui incumbido de tomar conta da Júlia no lugar perigoso onde ficamos.
Minutos depois. Sim Richardo minutos. Era o nome que dávamos a pedaços de tempo. Mais ou menos como raios lunares. Posso continuar? Obrigado. Então, poucos raios lunares depois, a Júlia aproximou-se de mim. Conversa puxa conversa, senti os seus olhos a descair para os meus lábios. Aproximei-me, lentamente, como um predador que não quer assustar a presa, e beijei os seus lábios quentes. Ai Richardo, o doce sabor do mentol. É uma pena que nunca o venhas a experimentar. Mas um beijo, isso, tens tudo para o dar e vives num mundo que não existe. Faz-me lembrar um filme, sim aquelas coisas que se pagava para ver e não se participava, sobre um mundo assim, como o que escolhes viver. Matrix. Eles fizeram de tudo para fugir e destruir esse mundo, vocês hoje em dia fazem tudo para não sair dele. O beijo? Ah, claro. Desculpa. O beijo foi longo, doce, melhor que o esperado. As línguas que dançavam uma música pautada pelo bater acelerado de corações jovens. Bons velhos tempos. Lembro-me de ter aproximado as mãos do corpo dela. Que corpo Richardo. Retirei a sua camisola, ignorando os receios tímidos dela, e escolhendo os sorrisos que me convidavam a avançar, o seu peito estava protegido por um soutien vermelho, rendado. O que é um soutien? Pergunta à tua mãe mais logo, ela vai adorar que eu te tenha andado a contar estas coisas. Mas ela reclama por tudo mesmo. Continuei a retirar a roupa dela, peça por peça, olhando, envergonhado para o seu corpo. E ela fez o mesmo. De olhos fechados
Um sinal sonoro assinalava as 12 luas de Linker. Estava na hora de Richardo ir para casa. Fiquei orgulhoso a vê-lo ficar triste por ir embora, por não saber como acabava a minha história. Sei que não seria apropriado no meu tempo contar isto a um jovem de 8 trovões de Klim. O equivalente a 14 anos no tempo dos antigos. Mas os tempos são outros. Pode ser que amanhã ele queira ouvir o resto e fugir, também ele, um pouco do mundo virtual onde vive.

Por: Miguel Brito

20 de novembro de 2010

Opinião - "Sombras e Fortalezas"



Romances históricos há muitos. Leia apenas os melhores - como os de Elizabeth Chadwick.

Inglaterra, 1148. Brunin é um rapaz de dez anos marginalizado pela própria família. Uma criança reservada, é atormentado pelos irmãos e desprezado pela avó autoritária. Numa tentativa de torná-lo um herdeiro de quem se orgulhe, o pai envia-o para a casa de Joscelin, Senhor de Ludlow, onde Brunin irá aprender as artes da cavalaria. Mas, antes que o consiga, terá que ultrapassar a insegurança e as dúvidas que sente sobre si próprio. Hawise, a filha mais nova de Joscelin, cedo forma uma forte amizade com Brunin. As alianças de família forçam o seu pai, com o jovem como seu pajem, a auxiliar o Príncipe Henrique na sua batalha pela coroa inglesa. Entretanto, o próprio Senhor de Ludlow é ameaçado pelo seu rival, Gilbert de Lacy. Enquanto prossegue a luta pela coroa e o rival se prepara para atacar, Brunin e Hawise cedem à paixão.
É então que as propriedades da sua família são atacadas e Brunin tem de mostrar o que aprendeu. Mas estará a jovem Hawise do seu lado, num mundo onde os poderosos raramente respeitam os ideais de cavalaria? Brunin terá que enfrentar o futuro com coragem... ou perder tudo.

Opinião:


Esta obra retrata o século XII e a Inglaterra medieval, durante e depois da Guerra Civil que opôs a Rainha Matilde e o Rei Estevão. Num país destroçado por uma longa guerra, junto a fronteira com Gales mora a família FitzWarin que mora no castelo de Whittington. Um jovem tímido chamado de Fulke, mais conhecido como Brunin é constantemente atormentado pelos seus irmãos mais novos e pela sua avó por causa da sua natureza tímida e muito calada.

O Pai de Brunin, decide enviar-o como escudeiro para Ludlow, onde mora o melhor amigo do dele Joscelin de Dinan, um antigo mercenário. Em Ludlow, Brunin aprende a artes da cavalaria e recebe o carinho que sempre lhe faltou em casa.

É também em Ludlow onde ele encontra a Hawise, a irrequieta e teimosa filha mais nova de Joscelin, que irá ser uma companheira de brincadeira para Brunin.

Este livro tem algumas boas descrições da mentalidade das pessoas, das paisagens da zona de fronteiriça anglo-galesa, dos castelos e algumas excelentes descrições de batalhas.

Gostei bastante deste livro que mistura factos históricos verídicos com romance e com algumas cenas de batalhas e reviravoltas no enredo bastante inesperadas. Recomendo este livro aos amantes do romance histórico.

Classificação: 8-10

18 de novembro de 2010

Fotos da adaptação televisiva das "Crónicas de Gelo e Fogo"

Jon Snow e Sam Tarly

Rei Robert Baratheon

Rainha Cersei

Sor Jaime Lannister

Lorde Eddard Stark

Bran Stark e John Snow

Daenerys Targaryen

Tyrion Lannister

Tyrion e Catelyn Stark

16 de novembro de 2010

Vendedor de Sonhos

Meia-noite. Hora mágica, em que um dia nasce no mesmo segundo que o anterior morre. É a hora da mudança, a hora que faz, literalmente, avançar o mundo. Seria mais profundo se essa hora fosse partilhada por todos os países, mas o homem definiu consoante a sua vontade e esqueceu a vontade do mundo. Meia-noite. Hora de sonhos.
Caminhei calmamente por Lisboa. Na rua escura ao longe ecoam gritos de um qualquer grupo de jovens, mas aqui, ao perto, apenas os meus passos compõem a balada da minha caminhada. Uma terça-feira como outra qualquer. Procurava alguém, não sei quem, mas na minha linha de negócio, alguém há-de me encontrar a mim.
Vejo um casal que anda de mãos dadas na rua. Vêm em minha direcção, serão os clientes desta noite? Talvez. São poucos os passos que nos separam, três, dois, um, nada. Passaram por mim, literalmente. Isto de viver, andar e vender numa dimensão diferente faz-me passar por muitos momentos destes. Sim, a minha dimensão é diferente.
Curioso? Simples, durante a meia-noite sou livre de caminhar no mundo dos vivos, mas apenas os desesperados me podem ver. Sou um vendedor de sonhos e apenas um desesperado paga o preço mais alto. Eu sei, fui um deles.
Olho para cima e vejo um prédio iluminado, pessoas à janela, outras recolhidas à frente da televisão dentro do aconchego das suas casas. Antigamente era mais fácil, as pessoas passeavam mais. Os desesperados não vagueavam pela internet mas sim pelas ruas. É a crise, também chegou ao meu mundo. Sem dinheiro a melhor solução passa por ficar em casa, uns vendo naquela pequena janela brilhante homens e mulheres em estranhas poses, outros simplesmente conversando virtualmente com desconhecidos. No meu tempo o mundo era mais colorido.
Sinto um olhar a incidir em mim, é mais do que sentir, é ter a certeza. É como uma campainha que toca dentro da minha cabeça. Uma cliente.
Aproxima-se de mim uma jovem, já percebeu que sou diferente. Olho com curiosidade para ela. Os seus longos cabelos ondulados fazem-me lembrar o mar que um dia percorri em busca de terras distantes, não sei a cor, está escuro. Os seus olhos são claros, verdes talvez, ou azuis? Quem sabe cinzentos. Tem um rosto bonito, traços simples. Lábios carnudos e um pequeno sinal junto ao nariz, dá-lhe um ar diferente. É uma jovem bonita.
- Quem és tu? – Olhos atentos e preocupados
- Sou um vendedor – sorri
- O que vendes? – Arregalou os olhos como se duvidasse que a cena era real
- Sonhos.
- Não quero drogas! – Afastou-se indignada
- Não são drogas, são sonhos. O que quiseres será teu. Pelo preço certo. – Disse aumentando o tom de voz ao longo dos passos apressados dela.
Vi a jovem parar, como que a pensar. Voltou em minha direcção, abanava a cabeça pelo curto caminho.
- Quero que ele me ame. É esse o meu sonho. Qual é o preço? – Uma lágrima gorda escorria pelo canto da sua bela face.
- O preço é o mesmo para qualquer sonho. A tua alma. Quando morreres, seja daqui a 100 anos seja já amanhã, passas a vender sonhos para toda a eternidade. – Sorri, um sorriso amargo.
- Aceito – pela primeira vez vi o seu sorriso, não era impecável, nem totalmente branco, mas era bonito.
Entreguei à jovem uma pequena garrafa com um líquido cor-de-rosa. Já o fiz milhares de vezes.
- Bebe isto amanhã à meia-noite em ponto. É a hora dos sonhos. – Voltei costas e não lhe disse mais nada. O trabalho estava feito.

Cerca de 25 anos mais tarde cruzei-me com a minha cliente de Lisboa. Fiz-lhe a pergunta que fazia a todos os estagiários.
- Valeu a pena? – Sorri com tristeza
- Não – penso que teria chorado, se fossemos capazes do fazer
- Nunca vale – disse enquanto me afastava para mais uma noite de trabalho.

Por: Miguel Brito 

Opinião - "Estrela de Narien"




Sombras da Morte

Sinopse:

Num Império onde as avatares da Senhora da Sabedoria são tão respeitadas como o próprio Rei e os cavaleiros são admirados pela sua bravura e honra, a paz prospera nas terras do Império dos Homens. Aheik, um jovem cavaleiro, tem sonhos que o levam para outra era, onde o seu nome é Eogan, marido da guardiã da Estrela de Narien. A Estrela de Narien é um artefacto que se julga perdido e cujo poder não tem limites. Se de facto existir e cair nas mãos erradas, poderá até destruir o mundo. Atormentado, Aheik procura compreender significado dos sonhos. Do outro lado do Império, Étaín, uma elfo enlouquecida pelo desejo de possuir a Estrela, cria uma aliança com o povo bárbaro das Terras da Perdição. E a partir desse a guerra ameaça todo o Império, devastado por sangrentas batalhas contra um povo mata por matar e destrói por prazer. Mas Aheik não está sozinho. O destino reserva-lhe as maiores surpresas: o amor, traição a amizade... Todo o Império depende de uns poucos heróis, e Aheik tem a sua própria cruzada pessoal.




O Renascer

Sinopse:

Com a capital do Império tomada pelas forças do mal e Kyran retido para lá das portas da cidade, toda a esperança parece perdida. Sabendo que tentarão recuperar o controlo da capital a todo o custo, a malévola Étaín recorre, uma vez mais, aos bárbaros Shatrus para impedir a perda da Capital. Mensageiros partem para os quatro cantos do Império, convocando os seus governadores para anunciar a morte do Rei e a subida ao trono do seu sucessor. Sob ameaça, os governadores não têm alternativa senão aceitar aquele que Étaín colocou no trono do Império. Agora, com o Império assegurado, apenas Aheik se atravessa no caminho de Étaín, na busca pela Estrela de Nariën. Disposta a tudo para se apropriar de tal poder, Étaín será mais do que Aheik poderá suportar. E morrerá às suas mãos se não tiver ajuda do seu lado. É então que um estranho fenómeno tem lugar perante o olhar de duas jovens. A Estrela de Nariën renasce trazendo consigo o poder que Étaín tanto ambiciona.

Opinião:


Esta critica engloba os dois primeiros livros da trilogia "Estrela de Narien" da simpática algarvia Susana Almeida. Como já devem ter reparado eu ultimamente ando a ler muitos autores nacionais de fantasia, e só posso dizer que há muita qualidade por cá.

Estes livros levamos a um mundo habitado por homens, elfos, shatrus entre outros seres. Numa história envolvente repleta de acção, amores proibidos e muitas mortes.


Uma coisa que eu acho que faz falta aos livros é pequeno mapa para situarmos melhor a acção, mas enfim eu sou um viciado em mapas. 


Neste trilogia há algumas personagens simplesmente deliciosas de se seguir como o Aheik, um jovem e corajoso cavaleiro, o Lochan, uma personagem perseguida por um passado muito negro, a Étain, uma elfo que não olha a meios para atingir os seus objectivos, a Lakshmi uma jovem aprendiza da Senhora da Sabedoria e o Kyran, um cavaleiro amigo do Aheik que é considerado o melhor espadachim.


A minha personagem favorita é o Lochan, porque apesar de ser perseguido por um passado muito negro e de ser atormentado pela morte da sua mulher e filha num incêndio, ele ainda demonstra ser capaz de amar e de lutar pelos indefesos.


A Étain é outra personagem que merece destaque pela sua importância em toda a acção que decorre na história. Ela é uma elfo impiedosa que não se preocupa em matar inocentes para conseguir obter a Estrela de Narien. Ela também tem um passado amoroso com o Lochan.


Gostei bastante da descrição das batalhas, que são bastante detalhadas e em especial a primeira batalha contra os Shatrus, um povo semelhante ao homem mas muito violento e com hábitos alimentares deveras invulgares.


Os livros são muitos interessantes, com um enredo bem conseguido, com muita acção, algumas revelações surpreendentes. E algumas personagens muito bem construídas. Gostei muito dos livros. Recomendo a quem queira passar umas horas bem passadas a ler um livro.


Avaliação: 8-10  

12 de novembro de 2010

Opinião - "A Queda dos Gigantes"



Sinopse:

"Ken Follett, esse grande mestre do romance, publica uma nova obra de grande fôlego histórico, a trilogia O Século, que atravessará todo o conturbado século XX.
Neste primeiro volume, travamos conhecimento com as cinco famílias que nas suas sucessivas gerações serão as grandes protagonistas da trilogia. Mas não esgotam a vasta galeria de personagens, incluindo figuras reais como Winston Churchill, Lenine ou Trotsky, que irão cruzar-se uma complexa rede de relações, no quadro da Primeira Grande Guerra, da Revolução Russa e do movimento sufragista feminino. Um extraordinário fresco, excepcional no rigor da investigação e brilhante na reconstrução dos tempos e das mentalidades da época. "

Opinião:


Este livro é o primeiro da ambiciosa trilogia "O Século" do excelente escritor Ken Follett,  esta trilogia "só" tenta romancear os principais acontecimentos do século XX que foi muito rico em acontecimentos.

"A Queda dos Gigantes"  retrata a Europa antes e durante a Primeira Guerra Mundial, e levamos a conhecer a mentalidade existente na época e motivos do início da guerra que devastou a Europa.

Neste livro há personagens em sítios tão diversos como o Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos da América e a Rússia . Como sempre o Follett é um mestre na criação das suas personagens, as minhas favoritas foram o Billy Willians, um jovem mineiro gales, o Grigori Péchkov um operário fabril russo e a Maud Fitzherbert uma aristocrata inglesa com ideias polémicas. Mas há mais personagens que merecem ser descobertas pelo leitor

Ao ler este livro percebemos como era difícil ser um membro do povo e ter de lutar todos os dias para ter comida e abrigo. E também o que era muito difícil de trabalhar naquelas condições de segurança, tanto numa mina galesa ou numa fábrica em São Petersburgo.

O que atraiu mais foi a formidável descrição das mentalidades dos diversos povos envolvidos na obra. Desde do snobismo das altas classes, à luta diária do povo para sobreviver em tempo de guerra.
Há também algumas excelentes descrições de guerra. E claro que há sempre o romance, com especial destaque num caso polémico entre uma inglesa e um alemão.

Nesta obra é também bastante focada a politica e a relação entre os países até porque a maior parte das personagens são políticos ou estão intimamente ligados a politica. O que também está em foco são as sufragistas, e sua luta por direitos iguais aos do homem.

Este livro foi de longe o melhor romance-histórico que li, e que para mim supera o "Os Pilares da Terra" e qualquer amante de um bom livro devia comprar este livro apesar do seu elevado preço. Este livro entra no meu Top 5!! Mais do que recomendado, uma compra obrigatória!!

Classificação: 10-10

11 de novembro de 2010

Prenda de Anos



Ontem recebi uma excelente prenda do Corvo, um livro que já andava debaixo do meu olho a alguns meses.
Obrigado Fiacha!!

Sinopse:


Jean M. Auel retrata, neste empolgante retrato histórico, a vida dos nossos antepassados na última fase da Era Glaciar, quando os homens de Neandertal e de Cro-Magnon dividiam a Terra.

A heroína do romance é Ayla, uma valente e indomável jovem que é deixada à sua sorte depois de uma catástrofe natural.  Aos cinco anos é encontrada e adoptada pelo Clã, um grupo de homens de Neandertal, muito diferentes da sua espécie.
Num primeiro momento os cabelos loiros e olhos azuis de Ayla inspiram surpresa, depois desconfiança e, por fim aceitação por parte do Clã. Iza, a curandeira, e Creb, o Homem Santo, cuidam desta jovem que se interessa pela caça e pelo manejo de armas, algo que está proibido as mulheres, mas que ela domina com notável mestria.

O Clã do Urso das Cavernas é um fenómeno literário em todo o mundo. Nesta obra, a autora descreve um mundo real, mas ao mesmo tempo mágico, a sua fauna e flora, numa investigação histórica cuidada e elogiada por historiadores e antropólogos que ficaram rendidos a esta fantástica aventura.

10 de novembro de 2010

Parabéns a mim



Hoje eu faço 24 anitos. 
Ainda sou um rapazito com muito a aprender, mas aos poucos lá hei-de chegar!!
Vamos lá ver se ainda recebo muitas prendinhas :P
E vamos lá ver se não faço muitas asneiras!!

9 de novembro de 2010

Livros a comprar em 2011

Já foram anunciados alguns livros pela Saída de Emergência que eu quero (e vou) comprar em 2011, fica aqui uma pequena lista.

Frank Hebert - Dune - Messiah
George R.R. Martin - The Hedge Knight e mais alguns pequenos contos
Scott Lynch - The Lies of Locke Lamora 
Guy Gavriel Kay - Tigana
David John Durham - Acacia
R.A. Salvatore - Restantes livros da trilogia Elfo Negro e a The Icewind Dale Trilogy
Raymond Feist - Silverthorn e A Darkness at Sethanon
Robin Hobb - The Tawny Man Trilogy

Caso para dizer que a SdE vai apostar em forte no ano 2011, para mal da minha carteira e de muitas outras!




8 de novembro de 2010

A Escritora favorita do Fiacha



Colleen McCullough

Nasceu na Austrália.

Neurofisióloga, criou o Departamento de Neurofisiologia do Royal North Shore Hospital, em Sidney, trabalhando posteriormente em investigação e ensinando na Yale Medical School durante dez anos.

A sua carreira literária começou com a publicação de Tim, seguido de Pássaros Feridos, um best-seller internacional que bateu todos os recordes. A história de Roma Antiga é retratada de uma forma excepcional ao longo dos sete volumes que compõem a obra O Primeiro Homem de Roma. Todas as suas obras estão editadas em Portugal pela Difel.

Para além dos romances, escreveu também a letra das canções de um musical para teatro.

Em 2000 recebeu o Scanno, o mais importante prémio literário italiano, pela obra A Canção de Tróia, e é hoje uma das 100 pessoas designadas como Tesouros Nacionais Vivos da Austrália.

Actualmente vive com o marido na Ilha de Norfolk, no Pacífico Sul.


Em Portugal estão editados, todos pela DIFEL, os seguintes livros da autora:

A Canção de Tróia
Pássaros Feridos
O Primeiro Homem de Roma I – O Amor e o Poder
O Primeiro Homem de Roma II – A Coroa de Erva
O Primeiro Homem de Roma III – Os Favoritos da Fortuna
O Primeiro Homem de Roma IV – As Mulheres de César
O Primeiro Homem de Roma V – César
O Primeiro Homem de Roma VI – O Cavalo de Outubro
O Primeiro Homem de Roma VII – António e Cleópatra
O Terceiro Milénio – A Paixão Segundo Dr. Christian
Tim
Uma Obsessão Indecente
A Viagem de Morgan
O Toque de Midas
A Casa dos Anjos
Um Passo à Frente
O Dia de Todos os Pecados




Só posso dizer que esta é sem sombra de dúvidas a minha escritora preferida de sempre e quem tiver o prazer de ler não só a saga 1º Homem de Roma, mas alguns romances perceberá o que quero dizer.

Já li dois romances da escritora, Pássaros Feridos (dos melhores romances que já li até hoje) e Tim e ambos são excelentes livros que julgo ainda ser possível adquirir por um euro na revista sábado (têm que se deslocar às instalações do Correio da Manhã ou encomendar).

Mas onde a escritora se destaca para mim é na saga do 1º Homem de Roma, que actualmente estou a acompanhar e devo dizer que estou deslumbrado, dos poucos anos que tenho de leitura nunca vi uma obra tão grandiosa, tão bem escrita e com tamanha qualidade, onde a escritora apresenta uma escrita fluída que expressa muitíssimo bem a sociedade romana, o seu modo de viver e, principalmente, explica-nos de uma forma perceptível os meandros da política romana.

Se gostam de Romance Histórico e em especial saber mais sobre o império romano então não percam esta saga, pois explica como Roma passou de uma mera cidade a líder incontestada da Península Italiana e como se transformou de uma Republica num Império.

Infelizmente a Difel deixou de vender os livros da saga por 17€ algo que infelizmente não aproveitei para comprar o 6º volume, mas não será o preço alto do livro que me vai demover de comprar os dois últimos volumes.

Não se deixem influenciar pelo tamanho dos livros, aquilo lê-se num ápice e é mesmo muito bom.

Apenas me faltam ler os dois últimos volumes da saga mas posso dizer com toda a certeza que é IMPERDÍVEL

7 de novembro de 2010

Programa Forum Fantástico




Programa retirado do site oficial do Forum Fantástico.

12 de Novembro, Sexta-Feira:

14:30 – Abertura.
15:00 – Painel “Clássicos da Ficção Científica Portuguesa”, com Luís Filipe Silva, António de Macedo, João Barreiros e João Seixas.
16:00 – Painel “Nova Fantasia Portuguesa para Novos Leitores”, com Fábio Ventura, Bruno Martins Soares e Bruno Matos.
17:00 – Painel “Arte Fantástica”, moderado por Ana Maria Baptista.
18:00 – Intervalo.
18:30 – Lançamento “A Simbólica do Espaço em O Senhor dos Anéis”, com a autora Maria do Rosário Monteiro.
19:00 – Painel “Fantasia Portuguesa no Feminino”, com Madalena Santos, Inês Botelho e Susana Almeida.

13 de Novembro, Sábado:

10:30 – A Mecânica da Escrita Fantástica (I) – “Worldbuilding”, por Ricardo Pinto.
11:15 – A Mecânica da Escrita Fantástica (II) – “Invented Technology and Atmosphere”, por Stephen Hunt.
12:00 – A Mecânica da Escrita Fantástica (III) – “Characters and Characterization”, por Peter V. Brett.
14:30 – “Fórum Fantástico: 5 anos, e agora?”, à conversa com Rogério Ribeiro e Safaa Dib.
15:00 – Painel “Lisboa Fantástica”, moderado por Rui Tavares, com João Barreiros, David Soares e Octávio dos Santos.
16:00 – Cinema Fantástico Português – Curtas.
17:00 – Intervalo.
17:30 – Lançamento “A Luz Miserável”, com o autor David Soares.
18:00 – À Conversa com Ricardo Pinto, por João Seixas.
18:30 – À Conversa com Stephen Hunt, por Luís Corte-Real.
19:00 – À Conversa com Peter V. Brett, por Pedro Reisinho.
19:30 – Sessão conjunta de autógrafos.

14 de Novembro, Domingo:
10:00 – Kafeeklatsch – Blogues Nacionais do Fantástico (em local a combinar).
11:30 – A Mecânica da Escrita Fantástica (IV) – “Quando a Realidade se mistura com o Fantástico”, por David Soares.
12:15 – A Mecânica da Escrita Fantástica (V) – “Noções de Guionismo Cinematográfico para Contistas e Romancistas”, por Luís Pereira (Monomito Argumentistas).
15:00 – Sugestões de Leitura, com Ana Cristina Alves e João Barreiros.
15:30 – Painel “Banda-Desenhada”, com Filipe Melo, Nuno Duarte, Osvaldo Medina, Rui Ramos, Fil, André Oliveira e Diogo Carvalho.
17:00 – Painel “Fantástico como forma literária”, moderado por João Morales, com Afonso Cruz e João Pedro Duarte.
18:00 – Intervalo.
18:30 – Cinema Fantástico Português – Curtas.
20:00 – Encerramento.

Durante o evento estará disponível uma Feira do Livro Fantástico, gerida pela livraria Dr. Kartoon.

Vozes

Sempre fui diferente. Isso para mim não era novidade, apenas para todos os outros. Enquanto os rapazes da minha idade corriam à volta de árvores para se apanharem uns aos outros, eu ficava sentado a olhar para eles. Todos os outros homens que conheço possuem uma voz dentro de si. Eu, no entanto, possuo duas. É este o meu dom e é esta a minha maldição.
Aos meus dezoito anos lunares parti, finalmente, em busca da resposta. Lembro-me que quando era muito pequeno, um velho viajante, falava de um livro fantasma. Era o livro que continha todas as respostas, todas as soluções e algumas maldições. Nunca tirei da minha cabeça a imagem daquele homem. De cara pintada de azul, fumando o seu cachimbo, olhava para o céu. Não da mesma maneira que eu ou os meus irmãos o fazíamos, ele via algo mais. Penso que via as respostas que eu procurava.
Durante meses cavalguei, rápido, por entre montes e planícies, lagos e desertos. Parte de mim queria parar, descansar. Mas a outra, a que quero apagar, incitava-me a continuar. Assim o fiz, como fazia quase sempre, e isso custou a vida a Força. O meu cavalo.
Nunca fui forte, mas consegui carregar sem dificuldade o essencial para a minha viagem. Ainda não tinha sinal, sinal do livro, sinal das respostas, sinal da maldição, ou da cura. Queria apenas ser normal, igual a todos os outros.
Avistei uma árvore estranha, as suas flores cor-de-rosa, possuíam o brilho das estrelas. Era única. Sentei-me junto ao seu tronco, olhando, abismado, para cima. As flores estavam a deixar-me maravilhado, a minha voz, a que gostava, dizia para a admirar e aprender com a sua capacidade de brilhar. A outra, a que quero apagar, pedia-me para a queimar, por ser rara deveria ser perigosa ou valiosa. Como em nada me favorecia, não a devia deixar para ninguém.
Tentei, com todas as minhas forças, resistir. Mas aquela voz, doce, que sempre me levou um passo à frente dos outros, não a podia ignorar. Assim, da mochila velha e rasgada que carregava, retirei uma das garrafas de fogo dos céus, a bebida mais forte para as noites mais frias. Abri a garrafa, tremendo, e preparei-me para regar a árvore. Assim que o líquido jorrou, um duende surgiu vindo de não sei onde, e bebeu o líquido que despejava.
Iurrrrp, iurrrrrp era o único som que saía dos seus lábios. Fiquei sem reacção.
- Ó monstro…iurrrp porque tentas queimar a árvore sagrada? – Perguntou, cambaleando, o duende.
- Porque tenho de o fazer – respondi sem pensar, estava novamente sob o seu comando, maldita.
- Ó meu estúpido! – Disse o duende, entre golfadas de uma bebida já sua – não sabes que estas folhas são mágicas? São como as estrelas no céu! Podem guiar-te para qualquer caminho! – Disse o duende, de olhos fechados coçando a cabeça através do seu barrete vermelho.
Mata-o, dizia a voz. Olhei para o meu punhal, o seu cabo branco, incrustado com uma safira pendia, sedento, à espera da minha acção. E pela primeira vez na vida, resisti. Não segui a voz.
- Explica melhor – pedi, fazendo um esgar de dor perante os gritos loucos que se instalavam dentro de mim.
O duende, surpreendido, acabou por me fazer a vontade. Retirou uma panela do seu equipamento, que também não me lembro de ver aparecer, e encheu com água. Depois, gentilmente, recolheu uma das flores da árvore. Com um sorriso, entregou-me o estranho objecto.
- Toma monstro…iurrrp…faz uma pergunta que necessite de um caminho, a flor irá rodar e apontar para ele. – Disse o duende quase sem olhar para mim.
Desconfiado, perguntei para onde ficava a minha casa. Duas voltas deu a flor e apontou na direcção correcta. Virei-me de costas para a árvore e perguntei onde estava o duende. Duas voltas e a folha apontou na direcção à minha esquerda.
- Apanhei-te mentiroso! – Gritei enquanto me virava, bruscamente, para encontrar o duende.
A minha surpresa foi enorme quando estava apenas eu e a árvore. Fiz a pergunta óbvia, e segui para o caminho indicado. Já sabia como encontrar o livro.
Não sei quantas luas encheram e esvaziaram, sei sim que me sentia perdido, mesmo na direcção certa. Passava entre multidões como um fantasma passa por paredes, deslizava pelo deserto mais quente como uma cobra perseguida pelo predador. Nada me parava, nada me importava. As vozes estavam lá, mas agora não as ouvia. Nunca me senti tão só.
Já há algum tempo que estava nesta floresta. Tinha tudo o que precisava para recuperar as energias de uma viagem tão longa e fatigante. Mergulhei, nu, no lago fresco e cristalino. Nadei durante horas, ou mesmo dias, não sei. Senti que estava em casa. Quando me senti pronto, voltei para terra, dormindo aquecido e protegido por uma bela fogueira. Com o sol da manhã, mais do que raios e dores nos olhos, nasceram gritos humanos e sons que não compreendia.
Tentei escutar as vozes, mas ambas me tinham abandonado. Corri, então, na direcção de todo aquele ruído.
Nem queria acreditar no que via, um grupo de três caçadores rodeava um pequeno Dragão verde. A mãe já se tinha afastado, com duas crias que voavam a seu lado. Mas este pequeno parecia ter medo de voar. O seu terror, a ver-se desprotegido, longe de tudo o que sempre conheceu, fez-me perder a cabeça. Mata-os, disse a voz. Qual delas, não sei. Mas elas tinham voltado a falar comigo e, agora, eu concordava.
Retirei o meu punhal, e corri, rápido como o vento, rápido como a morte. Nunca fui forte, mas nunca encontrei ninguém mais rápido. Ao encontrar o primeiro dos caçadores, a minha presença ainda lhes era desconhecida, como tal foi fácil passar a lâmina, sedenta, pelo seu pescoço gorduroso. O baque que fez ao cair de joelhos no chão, misturado com os gritos surdos de sangue, alertou os outros para a minha presença.
Erro típico, tentaram rodear-me, sendo o mais rápido já tinha passado por isto em todos os treinos, assim, pude atacar um de cada vez. Enfrentei, em primeiro lugar, o que tinha o elmo com chifres de Dragão, aquela visão fez-me ser cruel ao numa estocada rápida, ferir, mortalmente, o meu oponente numa das virilhas. Não há morte pior para um homem. Mas cometi um erro, fiquei demasiado tempo a olhar para a minha vítima e o último dos caçadores já estava muito perto, perto de mais. Ainda me virei, mas já não consegui apunhalar o meu adversário. Ao invés a minha arma foi roubada, pontapeada para longe. Sabia que nunca sobreviveria a um combate corpo a corpo com aquele homem gigantesco. Mas a sorte sorriu-me, pela primeira vez, e o Dragão que antes tinha estado com medo de morrer mordia agora a perna do caçador. Este, ao sentir a dor, largou a sua arma, e facilmente tratei do assunto.
Arfando, ferido e cansado, tinha salvo o Dragão. Este tinha colocado o seu corpo, verde-esmeralda, junto ao meu. Quando o toquei, não reconheci através do tacto nada igual. Era como se a pedra tivesse ganho uma cobertura quente e aveludada. Era magnífico. A calma e a paz que senti ao tocar no Dragão fez com que esquecesse todas as mágoas do passado, mas não a minha missão.
Após dois dias de descanso, parti, acompanhado por Equilíbrio – nome que entretanto dei ao Dragão – mais uma vez na minha demanda.
Três longos anos passaram, evitei terras povoadas, fugi de pequenos grupos e matei outros, tudo em nome de manter Equilíbrio em segurança. As vozes, essas, ainda as ouvia. Mas pela primeira vez, não pensava no que fazer, fazia.
Numa manhã de inverno, onde o frio e a chuva me açoitavam a vontade de prosseguir perguntei, novamente, à bússola do duende, onde ficava o livro fantasma. A resposta deixou-me sem folgo. Aparentemente estava mesmo ali. Só tinha de andar mais um pouco, e estaria lá.
Acordei o Dragão e corremos, como nunca antes o tínhamos feito. Ele sentia a minha alegria e excitação e eu sentia a sua lealdade. Éramos felizes.
Quando reparei para onde nos dirigíamos, quase não foi a tempo de parar. À nossa frente, eterno, um precipício terminava com o mundo. Não havia mais nada.
 Além de uma rocha flutuante, com uma entrada. Sabia que era ali, estava perto. Podia sentir a resposta a dançar na minha alma, enquanto as vozes gritavam, ao longe.
Equilíbrio percebeu o que precisava dele, como forma de paga por tudo o que tínhamos vivido, ergueu, imponentes, as suas asas aos céus, ali estava o rei e queria o seu domínio de volta. Já em cima de meu Pégaso verde, voamos, aterramos e juntos, entramos.
Ao fundo de um enorme corredor, estava um suporte preto, como a noite, com uma luz fantasmagórica presente nele. Avancei, sentindo o quão perto estava das minhas respostas.
- Onde pensas que vais? – Perguntou alguém atrás de mim
Quando me virei, fiquei abismado, esmagado, pela beleza do que presenciava. Uma mulher, com o cabelo laranja como as chamas que me aqueciam, olhava para mim. Vestia um corpete preto, com traços vermelhos. As botas negras pareciam possuir o brilho astuto dos corvos, mas o que realmente me deixou fascinado, foi a sua pele. Branca como a neve, junto ao seu, apelativo, decote, possuía um conjunto de rubis incrustados na pele, adornados por fios de outro que os rodeavam. Era a visão mais bela e exótica que tinha visto.
- Procurar a cura – respondi, gaguejando
- Não há cura Elvi. Apenas a viagem – respondeu sorrindo
Não queria acreditar naquela mulher, no entanto quando ela disse o meu nome, que já nem o lembrava, senti que me dizia a verdade. Corri, então, para junto do livro. Dentro da cor azul, fantasmagórica, as páginas não faziam qualquer sentido. Pensei, no que seria necessário para ser feliz, mas a única resposta que me surgia era a palavra viagem.
Aterrado, ajoelhei-me e chorei. Chorei por tudo o que tinha feito, por tudo o que tinha deixado de fazer. Lamentei vidas que tirei e agradeci vidas que salvei. Foram anos em busca de uma resposta, apenas encontrei uma viagem.
- Tu és como eu – dizia a bela feiticeira – És um Guia. Aqui terás todo o treino necessário e, um dia, Elvi, quando estiveres pronto, irás com o Equilíbrio salvar o mundo.


Por: Miguel Brito

Os Bárbaros de Humberto Oliveira


Sinopse:

"Lá no alto, sobre os restos caducos daquilo que um dia se chamou "humanidade", paira hoje uma abóbada celeste entabuada.
A chuva cai. Os dias são negros e iguais. Sempre iguais. As terras estão vazias, despidas de gente. 
Edificações desabaram. Populações desapareceram. Povos extinguiram-se, como sementes queimadas, como vento passageiro de prazo expirado. O ano? Há muito tempo atrás. Numa era esquecida. Contudo, para Alexx Kajih, um sobrevivente desse holocausto que resiste no limite das forças, um sonho ainda é força motriz que o instiga avante.  E enquanto esse sonho perdurar... a esperança viverá nele".



5 de novembro de 2010

Percy Jackson e o Mar dos Monstros

Sinopse:


O ano de Percy Jackson foi surpreendentemente calmo. Nenhum monstro se atreveu a colocar os pés no campus da sua escola em Nova Iorque. Mas quando um inocente jogo do mata entre Percy e seus colegas se transforma numa disputa mortal contra um grupo de gigantes canibais, as coisas ficam... digamos, complicadas. E a inesperada chegada da sua amiga Annabeth traz mais más noticias: as fronteiras mágicas que protegem a Colónia dos Mestiços foram envenenadas por um inimigo misterioso e, a menos que encontrem uma cura, o único porto seguro dos semideuses tem os seus dias contados. Nesta emocionante e divertida continuação da série iniciada com Os Ladrões do Olimpo, Percy e seus amigos precisam se aventurar no mar dos Monstros para salvar a Colónia dos Mestiços. Antes, porém, o nosso herói descobrirá um chocante mistério sobre sua família — algo que o fará questionar se ser filho de Posídon é uma honra ou simplesmente uma piada de mau gosto.

Promoções Fnac

4 de novembro de 2010

Opinião - "Escritos dos Ancestrais"


Sinopse:

"A Presença lança um novo autor de língua portuguesa, do género fantástico. Na sua obra de estreia, Rodrigo McSilva recorre a uma multiplicidade de personagens e divindades das mitologias nórdica, celta e indo-europeias, que interagem numa história alternativa em que o mundo é simultaneamente habitado por deuses, raças desaparecidas, heróis míticos e humanos. Até ao dia em que o Ente Uno, o Juiz do Tempo, indignado pela perfídia dos deuses, decide pôr fim a esta realidade e afastá-los uns dos outros. «Que a linha do tempo seja doravante como um punhal, mas com duas faces, esquerda e direita, que jamais se verão». Assim os condenou a uma estéril dualidade. Os mortais habitariam o «gume terrestre», desenvolvendo a ciência e a técnica, mas trablhando na dúvida e na incerteza, enquanto os deuses e os que os haviam seguido habitariam o invisível «gume de odelberon» numa eternidade imutável. Cada lado ficaria sujeito às leis dos respectivos universos. Havia porém uma vaga esperança, a longínqua promessa de que, ao fim de vinte mil anos, os dois gumes, agora separados se reencontrassem... Esta extraordinária aventura ficou registada pelos inúmeros escribas que ao longo das eras foram registando os seus sucessivos capítulos."

Opinião:


Antes da opinião queria mencionar que ganhei este livro num passatempo feito pelo Rodrigo McSilva no seu blogue dedicado ao livro. O que me fez poupar algum euros! E queria também agradecer ao Rodrigo a simpática mensagem e o autógrafo que deixou no livro.

Este livro aborda diversas mitologias desde da nórdica, grega, eslava, celta e até a lusitana.
Eu como sempre foi um apaixonado por mitologia em principal a grega, romana e a nórdica, achei este livro extremamente interessante e que o autor conseguiu conjugar muito bem as diversas mitologias.

A história começa com o Ente Uno, que está zangado com os deuses, a separar os mortais dos deuses em dois gumes diferentes. Os humanos ficam no "gume terrestre" e os deuses vão para o "gume de odelberon".
No "Escritos dos Ancestrais" assistimos a migração dos deuses para o "gume de odelberon" e também o primeiro centénio que eles lá passam. Há também há figuras mitológicas como os elfos, gigantes, anões, centauros, minotauros, etc que seguem os seus respectivos deuses.    

Gostei muito de conhecer a mitologia lusitana que eu não conhecia e que agora fiquei com uma enorme vontade de aprofundar os meus conhecimentos sobre ela. Mas a cultura nórdica foi a que me mais atraiu neste obra.

O livro tem um bom ritmo e uma escrita fácil, mas a qual temos de prestar atenção as muitas personagens que aparecem e a sua cultura. Com excelentes descrições de ambiente, personagens muito boas e algumas descrições de batalhas bem conseguidas, este livro conseguiu agarrar-me desde das primeiras palavras.

Eu recomendo sem qualquer dúvida este livro a qualquer amante de um bom livro, e se gostar de fantasia e de mitologia ainda melhor!

Classificação: 9-10

Nota: Para uma leitura mais fácil aconselho a imprimir os mapas e o glossário disponível na página do autor.

3 de novembro de 2010

A Senhora de Shalador



Sinopse:
Durante longos anos, o povo de Shalador suportou as crueldades das Rainhas corruptas que reinavam, proibindo tradições, punindo quem se atrevia a desafiá-las e forçando muitos à clandestinidade. 
Pese embora os refugiados tenham encontrado abrigo em Dena Nehele, nunca conseguiram considerar esse lugar como a sua terra. 
Agora, depois da aniquilação dos Sangue deturpados de Dena Nehele após a purificação, a Rainha de Jóia Rosa, Senhora Cassidy, assume como seu dever restaurar a terra e dar provas das suas capacidades como soberana.
Ciente de que para assumir tal tarefa irá precisar de todo o ânimo e coragem que conseguir reunir, invoca o poder dentro dela  que nunca fora posto à prova, um poder capaz de a consumir caso não consiga controlá-lo. 
Ainda que a Senhora Cassidy sobreviva à sua prova de fogo, outros perigos a aguardam. 
Pois as Viúvas Negras descortinam nas suas teias entrelaçadas visões de algo iminente que irá mudar a terra – e a Senhora Cassidy – para sempre.

Segundo o site www.wook.pt o livro saí no próximo dia 12 de Novembro, uma boa notícia para os apreciadores da Anne Bishop.

Primeiras aquisições de Novembro


Novo título da Coleção TEEN que regressa e volta a surpreender com os melhores livros juvenis adultos.

Num Império onde as avatares da Senhora da Sabedoria são tão respeitadas como o próprio Rei e os cavaleiros são admirados pela sua bravura e honra, a paz prospera nas terras do Império dos Homens. Aheik, um jovem cavaleiro, tem sonhos que o levam para outra era, onde o seu nome é Eogan, marido da guardiã da Estrela de Narien. A Estrela de Narien é um artefacto que se julga perdido e cujo poder não tem limites. Se de facto existir e cair nas mãos erradas, poderá até destruir o mundo. Atormentado, Aheik procura compreender significado dos sonhos. Do outro lado do Império, Étaín, uma elfo enlouquecida pelo desejo de possuir a Estrela, cria uma aliança com o povo bárbaro das Terras da Perdição. E a partir desse a guerra ameaça todo o Império, devastado por sangrentas batalhas contra um povo mata por matar e destrói por prazer. Mas Aheik não está sozinho. O destino reserva-lhe as maiores surpresas: o amor, traição a amizade... Todo o Império depende de uns poucos heróis, e Aheik tem a sua própria cruzada pessoal.


Novo título da Coleção TEEN que regressa e volta a surpreender com os melhores livros juvenis adultos.

Com a capital do Império tomada pelas forças do mal e Kyran retido para lá das portas da cidade, toda a esperança parece perdida. Sabendo que tentarão recuperar o controlo da capital a todo o custo, a malévola Étaín recorre, uma vez mais, aos bárbaros Shatrus para impedir a perda da Capital. Mensageiros partem para os quatro cantos do Império, convocando os seus governadores para anunciar a morte do Rei e a subida ao trono do seu sucessor. Sob ameaça, os governadores não têm alternativa senão aceitar aquele que Étaín colocou no trono do Império. Agora, com o Império assegurado, apenas Aheik se atravessa no caminho de Étaín, na busca pela Estrela de Nariën. Disposta a tudo para se apropriar de tal poder, Étaín será mais do que Aheik poderá suportar. E morrerá às suas mãos se não tiver ajuda do seu lado. É então que um estranho fenómeno tem lugar perante o olhar de duas jovens. A Estrela de Nariën renasce trazendo consigo o poder que Étaín tanto ambiciona.


Romances históricos há muitos. Leia apenas os melhores - como os de Elizabeth Chadwick.

Inglaterra, 1148. Brunin é um rapaz de dez anos marginalizado pela própria família. Uma criança reservada, é atormentado pelos irmãos e desprezado pela avó autoritária. Numa tentativa de torná-lo um herdeiro de quem se orgulhe, o pai envia-o para a casa de Joscelin, Senhor de Ludlow, onde Brunin irá aprender as artes da cavalaria. Mas, antes que o consiga, terá que ultrapassar a insegurança e as dúvidas que sente sobre si próprio. Hawise, a filha mais nova de Joscelin, cedo forma uma forte amizade com Brunin. As alianças de família forçam o seu pai, com o jovem como seu pajem, a auxiliar o Príncipe Henrique na sua batalha pela coroa inglesa. Entretanto, o próprio Senhor de Ludlow é ameaçado pelo seu rival, Gilbert de Lacy. Enquanto prossegue a luta pela coroa e o rival se prepara para atacar, Brunin e Hawise cedem à paixão.
É então que as propriedades da sua família são atacadas e Brunin tem de mostrar o que aprendeu. Mas estará a jovem Hawise do seu lado, num mundo onde os poderosos raramente respeitam os ideais de cavalaria? Brunin terá que enfrentar o futuro com coragem... ou perder tudo.

2 de novembro de 2010

Amaldiçoado e o Rei

A floresta ficava cada vez mais sinistra com o começo da noite. As árvores pareciam estar vivas, como que se olhassem para os seus passos com curiosidade. Teon, o rei errante, continuava o seu caminho.
Com a noite já profunda, deixou que a lua iluminasse o seu destino. Sabia que estava perto do que procurava.
Ao longe, conseguiu distinguir um castelo. Parte estava em ruinas, mas havia vida naquele lugar. Como e porquê, qualquer mortal desconheceria, mas Teon não era um mortal.
Ao chegar, procurou a pedra com a marca da lua crescente. A velha feiticeira tinha dito que a marca seria a porta da descoberta. O vagabundo que já foi rei acendeu uma vela, gasta e curta, sua companheira de viagem. Durante o que lhe pareceu horas procurou a maldita pedra. Não sabia explicar, mas sabia que era aquele o lugar que procurava. Sentia dentro de si a morte que o chamava.
Violino, o doce som de um violino, tocado a um ritmo fantasmagórico, apenas assegurou o rei de que estava certo. Parecia que o desgraçado ainda estava a gozar com ele. Durante anos vagueou pela terra em busca do momento de vingança. Tinha chegado. Ou pelo menos chegaria quando encontrasse a pedra. As suas mãos trémulas e frias tocavam a terra quente e áspera. Roçavam todas as superfícies lisas em busca da marca, foi então quealgo despertou a sua atenção. No meio das sombras das árvores, um raio de luar reflectia,perfeitamente, uma lua na porta do castelo. “A marca seria a porta da descoberta” pensou ele. Baixou o capucho e deixou que a sua cara, deformada, entrasse em contacto com a brisa que refrescava a noite. Ao longe, um mocho piava agoirento.
Empurrou a porta. O chiar que esta produziu era certamente o que se podia esperar após tantos anos sem ser usada. Mas o mundo que ela apresentou, era tudo menos poeirento. Uma longa mesa estava posta, iluminada parcamente por velhas velas vermelhas. Como que se um banquete tivesse sido preparado para receber um rei. Com um sorriso, Teon percebeu a ironia. O rei errante recusou, no entanto, a oferta do seu rival. Não seria esta a sua última refeição.
- Sei que estás ai! Aparece – rosnou o rei sem coroa
Nada. Nem um som ao longe que permitisse saber qual o novo destino. Olhou com atenção à sua volta. Vários quadros com cenas de mortes estavam pendurados, tortos, nas paredes. Armaduras antigas estavam, impecavelmente, distribuídas perto das escadas.
Tudo aconteceu ao mesmo tempo, as velas que iluminavam a mesa explodiram, enchendo o ar com mil cores diferentes. Ao mesmo tempo que as cores distraiam Teon, duas das armaduras ganharam vida. Luzes vermelhas brilhavam dentro das viseiras das mesmas, era como se o seu desejo de estarem vivas, se tivesse realizado. Uma das armaduras estava armada com um escudo e uma lança, a outra não possuía escudo e segurava em ambas as mãos uma longa espada ferrugenta.
Quase amaldiçoando a sua sorte, o rei, preparou-se para o óbvio confronto que tinha à sua frente. Deixou cair o longo casaco preto que lhe conferia um ar misterioso, e arregaçando as mangas da sua camisa branca com folhos, iniciou o encantamento. Duas bolas de energia arcana brilhavam nas suas mãos. Apontou à armadura com escudo e provavelmente mais difícil de vencer. Se a primeira bola acertou o alvo pretendido, fazendo com que o mesmo perdesse o seu visor, já a segunda tentativa passou bastante ao lado. Agora, mais irritada que nunca, a fantasmagórica peça de armamento corria contra o errante, com a lança em posição de arremesso, lançou. O som que produziu ao cortar o ar era o som da morte. Mas o rei, que já estava morto, ergueu ambos os braços  numaprece rápida e um escudo verde protegeu-o da lança. Assim que a mesma caiu no chão, atacou com veemência o seu decepado oponente. Mais duas saraivadas de energia pura e o encantamento sobre a armadura passou.O segundo oponente, que tinha esperado honrosamente, atacou então. Rápido como o vento, estocava o vagabundo sem no entanto o conseguir ferir. Ofegante, o rei precisava de um espaço para repousar e preparar a nova ofensiva. Olhou para a mesa e teve uma ideia. Correu o mais rápido que pôde, saltando para cima da mesma, surpreendendo a armadura que ainda se virava. Com uma prece mais mental que verbal o rei viu as suas mãos ganharem um brilho vermelho, sem hesitar juntou ambas as palmas, encostou-as ao peito e lançou a morte sobre o seu oponente. Fogo no mais estado puro derreteu tudo à sua passagem.
- Clap, clap – Aplaudiu alguém no cimo das escadas – Não esperava tanto da tua parte velho rei – Ironizava a voz ao longe
Teon correu, subindo as escadas, dois degraus de cada vez, procurando a voz que há tanto tempo tinha esquecido.
- Onde está ela amaldiçoado? – Perguntou o rei – O que lhe fizeste abominação?
- Ora, ora! Um monstro chama monstro a outro. Sim senhor, palavras feias para um rei – mais uma vez ironizou o amaldiçoado – Não sei do que estás a falar velho tolo
- Da rainha que me roubaste com a ajuda do teu falecido mestre – Rosnou, louco de raiva, o errante.
- Ah essa mulherzinha – minimizou o agora mestre das poções – Quando me rejeitou, pela segunda vez, tive de lhe ensinar umas coisinhas.
- Não volto a perguntar, onde está ela? – Perguntou em tom de ameaça – O que lhe fizeste?
- Antes de mais, como foi que te tornaste um de nós? Abandonaste a coroa por aquela mulher insuportável? – Perguntou com um brilho verde cada vez mais intenso no fundo do seu capucho negro – Estúpido! Podias ter qualquer mulher viva, procuras a morta?
- Se bem me lembro, palmilhaste a terra anos a fio para teres uma hipótese com ela – relembrou o rei – Mas ao que parece, foste recusado novamente. – Disse com um sorriso arrogante no semblante deformado da sua cara
- E tu velho rei? Vendes a tua alma por uma mulher que te enganou até à morte? Ou é mesmo verdade que o corno é o último a saber? – Disse no meio de uma gargalhada maquiavélica o amaldiçoado –Sabes que mais? Não vale o esforço! Nem o que tive nem o que estás a ter. – Terminou o amaldiçoado
- Essa é uma escolha minha! – Gritou o rei – Onde está ela? – Quase que suplicou
Sem uma única palavra, o amaldiçoado encheu os pulmões de ar, fitou seriamente o oponente e ao libertar o ar que tinha dentro de si, um gás púrpura encheu a sala.
O velho rei, ao sentir o gás, caiu. Sabia que não podia morrer, mas também não era par para o mestre das poções. O que poderia ele ter bebido, os poderes que poderia possuir agora? Ninguém saberia ao certo dizer. Desde que tinha sido rejeitado, novamente, pela rainha que estava louco. Matou o seu mestre, roubou todos os livros secretos e fugiu. Consigo levou apenas a rainha, alguns dizem que aprisionada numa garrafa, outros dizem que dentro de um livro, em forma de página rasgada.
- Espero que ela te deixe tão louca a ti como me deixou a mim rei estúpido – Começou por dizer o amaldiçoado – Se procuras Smirlah, ao labirinto de Scaraca terás de ir. Mas não te iludas, lá, não encontrarás a salvação que procuras – Disse desaparecendo no meio do gás paralisante.
- Nunca irei desistir – Afirmou o rei num último suspiro antes do sono doce o envolver – Irei até Scaraca.