A floresta ficava cada vez mais sinistra com o começo da noite. As árvores pareciam estar vivas, como que se olhassem para os seus passos com curiosidade. Teon, o rei errante, continuava o seu caminho.
Com a noite já profunda, deixou que a lua iluminasse o seu destino. Sabia que estava perto do que procurava.
Ao longe, conseguiu distinguir um castelo. Parte estava em ruinas, mas havia vida naquele lugar. Como e porquê, qualquer mortal desconheceria, mas Teon não era um mortal.
Ao chegar, procurou a pedra com a marca da lua crescente. A velha feiticeira tinha dito que a marca seria a porta da descoberta. O vagabundo que já foi rei acendeu uma vela, gasta e curta, sua companheira de viagem. Durante o que lhe pareceu horas procurou a maldita pedra. Não sabia explicar, mas sabia que era aquele o lugar que procurava. Sentia dentro de si a morte que o chamava.
Violino, o doce som de um violino, tocado a um ritmo fantasmagórico, apenas assegurou o rei de que estava certo. Parecia que o desgraçado ainda estava a gozar com ele. Durante anos vagueou pela terra em busca do momento de vingança. Tinha chegado. Ou pelo menos chegaria quando encontrasse a pedra. As suas mãos trémulas e frias tocavam a terra quente e áspera. Roçavam todas as superfícies lisas em busca da marca, foi então quealgo despertou a sua atenção. No meio das sombras das árvores, um raio de luar reflectia,perfeitamente, uma lua na porta do castelo. “A marca seria a porta da descoberta” pensou ele. Baixou o capucho e deixou que a sua cara, deformada, entrasse em contacto com a brisa que refrescava a noite. Ao longe, um mocho piava agoirento.
Empurrou a porta. O chiar que esta produziu era certamente o que se podia esperar após tantos anos sem ser usada. Mas o mundo que ela apresentou, era tudo menos poeirento. Uma longa mesa estava posta, iluminada parcamente por velhas velas vermelhas. Como que se um banquete tivesse sido preparado para receber um rei. Com um sorriso, Teon percebeu a ironia. O rei errante recusou, no entanto, a oferta do seu rival. Não seria esta a sua última refeição.
- Sei que estás ai! Aparece – rosnou o rei sem coroa
Nada. Nem um som ao longe que permitisse saber qual o novo destino. Olhou com atenção à sua volta. Vários quadros com cenas de mortes estavam pendurados, tortos, nas paredes. Armaduras antigas estavam, impecavelmente, distribuídas perto das escadas.
Tudo aconteceu ao mesmo tempo, as velas que iluminavam a mesa explodiram, enchendo o ar com mil cores diferentes. Ao mesmo tempo que as cores distraiam Teon, duas das armaduras ganharam vida. Luzes vermelhas brilhavam dentro das viseiras das mesmas, era como se o seu desejo de estarem vivas, se tivesse realizado. Uma das armaduras estava armada com um escudo e uma lança, a outra não possuía escudo e segurava em ambas as mãos uma longa espada ferrugenta.
Quase amaldiçoando a sua sorte, o rei, preparou-se para o óbvio confronto que tinha à sua frente. Deixou cair o longo casaco preto que lhe conferia um ar misterioso, e arregaçando as mangas da sua camisa branca com folhos, iniciou o encantamento. Duas bolas de energia arcana brilhavam nas suas mãos. Apontou à armadura com escudo e provavelmente mais difícil de vencer. Se a primeira bola acertou o alvo pretendido, fazendo com que o mesmo perdesse o seu visor, já a segunda tentativa passou bastante ao lado. Agora, mais irritada que nunca, a fantasmagórica peça de armamento corria contra o errante, com a lança em posição de arremesso, lançou. O som que produziu ao cortar o ar era o som da morte. Mas o rei, que já estava morto, ergueu ambos os braços numaprece rápida e um escudo verde protegeu-o da lança. Assim que a mesma caiu no chão, atacou com veemência o seu decepado oponente. Mais duas saraivadas de energia pura e o encantamento sobre a armadura passou.O segundo oponente, que tinha esperado honrosamente, atacou então. Rápido como o vento, estocava o vagabundo sem no entanto o conseguir ferir. Ofegante, o rei precisava de um espaço para repousar e preparar a nova ofensiva. Olhou para a mesa e teve uma ideia. Correu o mais rápido que pôde, saltando para cima da mesma, surpreendendo a armadura que ainda se virava. Com uma prece mais mental que verbal o rei viu as suas mãos ganharem um brilho vermelho, sem hesitar juntou ambas as palmas, encostou-as ao peito e lançou a morte sobre o seu oponente. Fogo no mais estado puro derreteu tudo à sua passagem.
- Clap, clap – Aplaudiu alguém no cimo das escadas – Não esperava tanto da tua parte velho rei – Ironizava a voz ao longe
Teon correu, subindo as escadas, dois degraus de cada vez, procurando a voz que há tanto tempo tinha esquecido.
- Onde está ela amaldiçoado? – Perguntou o rei – O que lhe fizeste abominação?
- Ora, ora! Um monstro chama monstro a outro. Sim senhor, palavras feias para um rei – mais uma vez ironizou o amaldiçoado – Não sei do que estás a falar velho tolo
- Da rainha que me roubaste com a ajuda do teu falecido mestre – Rosnou, louco de raiva, o errante.
- Ah essa mulherzinha – minimizou o agora mestre das poções – Quando me rejeitou, pela segunda vez, tive de lhe ensinar umas coisinhas.
- Não volto a perguntar, onde está ela? – Perguntou em tom de ameaça – O que lhe fizeste?
- Antes de mais, como foi que te tornaste um de nós? Abandonaste a coroa por aquela mulher insuportável? – Perguntou com um brilho verde cada vez mais intenso no fundo do seu capucho negro – Estúpido! Podias ter qualquer mulher viva, procuras a morta?
- Se bem me lembro, palmilhaste a terra anos a fio para teres uma hipótese com ela – relembrou o rei – Mas ao que parece, foste recusado novamente. – Disse com um sorriso arrogante no semblante deformado da sua cara
- E tu velho rei? Vendes a tua alma por uma mulher que te enganou até à morte? Ou é mesmo verdade que o corno é o último a saber? – Disse no meio de uma gargalhada maquiavélica o amaldiçoado –Sabes que mais? Não vale o esforço! Nem o que tive nem o que estás a ter. – Terminou o amaldiçoado
- Essa é uma escolha minha! – Gritou o rei – Onde está ela? – Quase que suplicou
Sem uma única palavra, o amaldiçoado encheu os pulmões de ar, fitou seriamente o oponente e ao libertar o ar que tinha dentro de si, um gás púrpura encheu a sala.
O velho rei, ao sentir o gás, caiu. Sabia que não podia morrer, mas também não era par para o mestre das poções. O que poderia ele ter bebido, os poderes que poderia possuir agora? Ninguém saberia ao certo dizer. Desde que tinha sido rejeitado, novamente, pela rainha que estava louco. Matou o seu mestre, roubou todos os livros secretos e fugiu. Consigo levou apenas a rainha, alguns dizem que aprisionada numa garrafa, outros dizem que dentro de um livro, em forma de página rasgada.
- Espero que ela te deixe tão louca a ti como me deixou a mim rei estúpido – Começou por dizer o amaldiçoado – Se procuras Smirlah, ao labirinto de Scaraca terás de ir. Mas não te iludas, lá, não encontrarás a salvação que procuras – Disse desaparecendo no meio do gás paralisante.
- Nunca irei desistir – Afirmou o rei num último suspiro antes do sono doce o envolver – Irei até Scaraca.
2 comentários:
Nunca pensei que Smirlah fosse objecto de tanta luta, cruzes até reis ela leva ao desespero.
Não paras de me surpreender e eu que segui com tanta atenção o teu começo de escrita.
Temos continuação ?
Obrigado caro Corvo! ;)
Sim, foste dos primeiros a comentar o meu trabalho no F.Bang. Quando comecei lá tinha escrito apenas 1 conto na vida. Já levo mais de 40 ;)
Quanto à continuação deste, bem, não. Apenas porque nunca surgiram sugestões no xcrita que dessem. Mas sei bem como é o labirinto. E sei como acaba. :) Um dia termino o conto!
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